quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Três poemas geográficos de Cristino Cortes

 


Bonifacio



COIMBRA, FINALMENTE

Nos 900 anos do nascimento de D. Afonso Henriques__ que o pai comemorou atribuindo novo foral à cidade

 

Para mim, Coimbra, tão bela, é de há muito oportunidade

Perdida. É, também, a consequente mágoa acumulada

De lá não ter vivido. Pelo menos uma namorada

Os deuses me deviam __ para a lágrima de agora ser verdade.

 

Houve um tempo em que à cidade eu a ultrapassei

Rumando a sul. E agora, se de longe a vejo, é sensível

A perda, melancólica e curta a homenagem possível

À mais pura perfeição da língua… E eu não a falei.

 

Direi pois que é viva a consciência da riqueza que assim

Perdi. E é já tarde que esta dívida assumo e pago

Num longo fluxo me integrando e o óbolo que aqui trago

É honesto e empenhado. Alegre ele este jardim!

 

E canto, oh sim, mais vale tarde do que nunca, neste espaço

De Coimbra continuar, sempre, sonho, encanto, terno abraço.

 

 

2 -    PREITO A SANTARÉM, EM TEMPO DE

                                                                   ABRIL

 

 

De madrugada daqui partiu a mais simbólica coluna

Com que Abril abriu a liberdade… Firme, o mais puro

Dos puros a comandava. E assim a alma nos subiu

Ao que é digno e nobre. Portugal então se redimiu

Nesse novo estádio em que para todos o sol nasceu.

Que ninguém jamais o esqueça, como Pessoa sabendo

Que só assim tudo vale a pena… E eu o sei também

E melhor o sei se aqui o posso sentir, em Santarém.


 

3 - ACORDES PORTUENSES

 

Eu canto e gosto de cantar, mas à minha maneira

A solo, jamais me integraria em coro ou orfeão;

Sujeito a essas ciências, qual harmonia de feira

Tudo desafinaria, seria a total perdição...

 

 

Várias vezes fui ao Porto, mas nunca lá comi

Tripas à moda da terra, até nisso sou rebelde;

Em Roma sê romano sim, mas nem tanto, impele-me

Compreender o mundo, não dizer o que já vi...

 

 

Mas acho bem, e gosto de ouvir, que outros cantem flores

E fontes, o rio da aldeia, quebradas dos montes;

Na alma morem juvenis perspectivas, horizontes

Então abertos, não há como os primeiros amores.

 

 

Estou à margem, de fora, é assim que a canção

Leveda e cresce, eis como ao Porto abro o coração.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...