Bonifacio
COIMBRA, FINALMENTE
Nos 900 anos do nascimento de D. Afonso Henriques__ que o pai comemorou
atribuindo novo foral à cidade
Para mim, Coimbra, tão bela, é de
há muito oportunidade
Perdida. É, também, a consequente
mágoa acumulada
De lá não ter vivido. Pelo menos
uma namorada
Os deuses me deviam __ para a
lágrima de agora ser verdade.
Houve um tempo em que à cidade eu a
ultrapassei
Rumando a sul. E agora, se de longe
a vejo, é sensível
A perda, melancólica e curta a
homenagem possível
À mais pura perfeição da língua… E
eu não a falei.
Direi pois que é viva a consciência
da riqueza que assim
Perdi. E é já tarde que esta dívida
assumo e pago
Num longo fluxo me integrando e o
óbolo que aqui trago
É honesto e empenhado. Alegre ele
este jardim!
E canto, oh sim, mais vale tarde do
que nunca, neste espaço
De Coimbra continuar, sempre,
sonho, encanto, terno abraço.
2 - PREITO A SANTARÉM, EM TEMPO DE
ABRIL
De madrugada daqui partiu a mais
simbólica coluna
Com que Abril abriu a liberdade…
Firme, o mais puro
Dos puros a comandava. E assim a
alma nos subiu
Ao que é digno e nobre. Portugal
então se redimiu
Nesse novo estádio em que para
todos o sol nasceu.
Que ninguém jamais o esqueça, como
Pessoa sabendo
Que só assim tudo vale a pena… E eu
o sei também
E melhor o sei se aqui o posso
sentir, em Santarém.
3 - ACORDES PORTUENSES
Eu canto e gosto de cantar, mas à minha maneira
A solo, jamais me integraria em
coro ou orfeão;
Sujeito a essas ciências, qual
harmonia de feira
Tudo desafinaria, seria a total
perdição...
Várias vezes fui ao Porto, mas
nunca lá comi
Tripas à moda da terra, até nisso
sou rebelde;
Em Roma sê romano sim, mas nem tanto, impele-me
Compreender o mundo, não dizer o que já vi...
Mas acho bem, e gosto de ouvir, que
outros cantem flores
E fontes, o rio da aldeia,
quebradas dos montes;
Na alma morem juvenis perspectivas,
horizontes
Então abertos, não há como os
primeiros amores.
Estou à margem, de fora, é assim
que a canção
Leveda e cresce, eis como ao Porto abro o coração.

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