VIVER PARA TI
É tocar o céu, pôr
o dedo
sobre um corpo
humano.
(Novalis)
Quando contemplo o teu corpo estendido
como um rio que não acaba nunca de passar,
como um claro espelho onde cantam as aves,
onde é uma alegria sentir como o dia
amanhece.
Quando eu olho os teus olhos, morte
profunda ou vida
que me chama,
música de fundo que eu apenas suspeito;
quando vejo as tuas formas, a tua testa
serena,
pedra luzente na qual brilham os meus
beijos,
como aquelas rochas que refletem um sol
que jamais se põe.
Quando acerco os meus lábios àquela música
incerta,
a esse murmúrio sempre jovem
do ardor da terra que entre o verde canta,
húmido corpo sempre resvalando
como um amor feliz que foge e volta ...
Eu sinto o mundo rolar sob os meus pés
rolar com ligeireza com a eterna
capacidade de estrela,
com essa alegre generosidade de luzeiro
que nem sequer precisa de um mar para
curvar-se.
Tudo é surpresa. O mundo tremeluzindo
sente que o mar de súbito está desnudo,
trémulo,
que é esse peito arrebatado e ávido
que apenas quer o brilho da luz do desejo.
A criação cintila. A serena ventura
passa como um prazer que nunca chega ao
fim
como essa rápida ascensão do amor
onde o vento se aferra a frontes as mais
cegas.
Olhar para o teu corpo sem mais luz do que
a tua,
essa música próxima que os pássaros congrega,
as águas, a floresta, esse palpitar ligado
deste mundo absoluto que sinto agora nos
lábios.
(Tradução
de nicolau saião)
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