ns
Bem cedo pela
manhã
partiu à
procura da obra
acreditando que
àquela hora da manhã
ela lhe
escutaria os passos
e lhe diria
pelo menos o nome.
Era o seu
último movimento
a última
inocência antes do apagar de todas as estrelas
que ao longo
das eras o haviam iluminado.
Não se
interrogou acerca da natureza do que buscava.
Confiava no
tempo que tinha sido preciso
para lhe
avistar a sombra.
Confiar era a
sua forma de ser íntegro
de purificar as
memórias de todos aqueles anos
antes de o rio
escolher aquele caminho
e de uma ave
sem nome entoar para ele uma absorvente litania.
O dia chegou
igual a todos os outros
antes de todos
os outros
antes mesmo de
ele se aperceber do apagamento do tempo.
Bem cedo pela
manhã confiou-se aos segredos
da mais pura
inocência.
*
Ele não sabe
que só muito para além do fim
as flores se
tornam verdadeiramente belas
como jovens que
nunca serão adultas.
Para além do
fim
a única ciência
é a da absoluta
ausência de promessa.
Assim se dedica
à colheita do fruto
metodicamente
e com orgulho
apesar de o
peso ser
às vezes
excessivo.
*
Pressentir é
algo que exige tempo
mas ele só
conhece o tempo definido pela sua própria sombra.
Quando a olha
vê só o que já foi
num rasto às
vezes amável
outras vezes
doloroso.
Mas o que sente
é sempre o mesmo
dividido
multiplicado
expresso em
formas incalculáveis
em desejos que
não chegaram a ser.
Pressentir
exige tempo
exactamente
como o não sentir.
in “O viajante exposto à
verdade das coisas”
Sem comentários:
Enviar um comentário