Nuno Costa Santos - do cânone ao
poema exemplar
Ainda
a propósito do cânone da Literatura Portuguesa dos séculos XX e XXI, também já
fui questionado sobre o «meu» cânone em particular. Não admira esta pergunta
pois escrevo sobre livros e autores em jornais e revistas desde 1978, além de
ter feito parte de Júris de Prémios Literários variados tanto da Associação
Portuguesa de Escritores como de diversas Câmaras Municipais. O «meu» cânone é
múltiplo e envolve não apenas poesia e ficção, antes se expande pelo teatro,
pelo ensaio, pelo jornalismo e até pela fotografia que é uma maneira de
«escrever» mesmo sem usar a gramática da escrita. Este poema de oito versos de
Nuno Costa Santos diz tudo sobre o tempo português na passagem da Guerra
Colonial (1961-1974) e o consumo generalizado da «droga» em todos os cantos e
recantos de Portugal Continental e Insular. Sem mais comentários, vejamos o
poema tal como surge no livro «Morrer é não ter nada nas mãos» - edição da
Companhia das Ilhas: «A Guerra Colonial da minha geração foi a droga. / A droga
que derrotou vocações, /sepultou famílias, /dizimou em nome de um inimigo:/ o
medo de se bastar com os dias./ A Guerra Colonial da minha geração /não teve
heróis mas sim uma heroína. /Foram raros os que regressaram dessa guerra.» Este
poema faz parte do meu Cânone pois se trata de um poema perfeito de
conhecimento e de síntese pois diz tudo sobre o impacto da droga e das drogas
nos jovens que nasceram depois de Guerra Colonial como é o caso de Nuno Costa
Santos, nascido em 1974. Para concluir: o meu cânone pessoal pode incluir
textos de Manuel de Fonseca, Carlos de Oliveira, Ruy Belo, Fernando Pessoa,
Raul Brandão, Ruben A., Bernardo Santareno, Romeu Correia ou Fernando Assis
Pacheco mas não posso dispensar o Nuno Costa Santos. Por tudo o mais e por este
poema cujo título é «Guerra Colonial».
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