Eileen Agar
Via verde na estrada de
Benfica
Quem
sai do hospital só pensa na morte
E
depois da filha em férias, nas viagens
As
dores abdominais o rosto da má sorte
De
não poder sorrir com ela nas portagens.
A produção de saquetas
foi descontinuada
O medicamento era assim
como a Cecrisina
Este é hoje como um copo
de água salgada
De doze em doze horas o
tempo da rotina.
Quem
sai do hospital só pensa na morte
Não
lhe convinha morrer se fosse agora
Hoje
a filha em férias segue para o Norte
Com
a via verde não vai parar a toda a hora.
Vejo uma carroça num
pátio de moradia
Parece ficou esquecida
pela marcha popular
Há setenta anos os burros
desta freguesia
Levavam na marcha gente a
sorrir e a cantar
As mãos de meu avô José Almeida
Caiu o telhado. Não sei se imaginas
Como tudo agora é sombrio e triste
A casa onde vivemos está em ruínas
O quarto onde se nascia já não existe
As pedras e os barrotes são só entulho
Ficou tudo acumulado no rés-do-chão
Há um silêncio onde antes era barulho
Que era um sinal de vida em profusão
Fosse na casa, no quintal, no palheiro
Onde também se fazia o nosso lagar
As tuas mãos à luz do velho candeeiro
Trabalhavam na noite fora sem parar
E aos domingos a trompete tão diferente
Faiscava entre a luz do sol na procissão
As tuas mãos, o chumbo e a água quente
Faziam na trompete um som de perfeição
in “Poemas Periféricos”
Sem comentários:
Enviar um comentário