segunda-feira, 7 de junho de 2021

Lino Mendes, Crónicas na vertical

 


Fernando Aguiar


Folclore e outros Patrimónios


   Por contingências da vida, só agora tive conhecimento de que o Governo anda a planificar um projecto de apoio ao “Património Cultural Imaterial”, tendo em conta, entre outras razões, que o mesmo “representa a identidade e diversidade de todo o território nacional”. Ora, não é verdade que o PCI - Convenção de 2003 da UNESCO, seja IDENTITÁRIO. E esta confusão que continua a verificar-se, não tem qualquer razão de ser, sendo-me penoso a afirmação da senhora Secretária de Estado da Cultura. Que não compreendo. É de facto tradição, mas não é tradicional.

   Aliás, é a Dr.ª Clara Bertrand Cabral responsável pela cultura na Comissão Nacional da UNESCO, que num artigo esclarecedor, nos diz que o PCI não assenta no autêntico, no tradicional e no identitário, mas sim no constantemente transformado e no criativo. E é a mesma senhora que mais recentemente me esclareceu, que para a UNESCO, enquanto o folclore é “tradição do passado,” o PCI é a “tradição do contemporâneo”.

   Quanto à estratégia em curso, não posso estar contra tudo o que seja destinado a garantir tradições, mesmo que não tradicionais, muito embora e segundo Paulo Lima, autor da candidatura do Cante, estas candidaturas servem acima de tudo para a criação de um destino turístico, ou para aumentar as vendas: como se vai ganhar dinheiro, associar produtos, etc., havendo sempre um intuito comercial ou capitalista, se quisermos.

   É de ter em atenção!

  Projecto diferente, mas que me parece de grande envergadura, está a nascer no Baixo Alentejo e ao que nos dizem visa a revitalização do Cante. Não tenho infelizmente mais informações sobre o projecto.         

   Agora, o meu desencanto, situa-se em dois pontos. Ainda hoje não se compreender, mesmo a nível superior, o que é identitário, e ter sido ignorado o que para mim era prioritário, isto é, o estudo correcto e respectiva sustentabilidade do nosso folclore, da nossa cultura tradicional, garantindo o seu futuro com a inclusão na Escola (formando públicos e sensibilizando crianças) a preparação de formadores, e o apoio a espaços, abertos ao futuro do passado.     

   Ainda quanto ao “não ser identitário” basta resultar de uma convenção - neste caso a de 2003 da própria UNESCO - ser convencionada, combinada.

 

   O “identitário” não nasce de decretos ou do parlamento, é o resultado de uma leitura correcta dos caminhos da cultura, até ao momento em que as vivências das gentes de antigamente sofram influência estranhas à sua maneira de ser e de estar.                                                                                                                             

   Cada dia que passa sem um aprofundamento dos saberes tradicionais locais, é um passo que se recua na manutenção da nossa identidade.

   E quem tem interesse que isso aconteça?                                                                                                                                                      

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