quinta-feira, 3 de junho de 2021

Dois poemas de António Cândido Franco

 




A ILHA DOS AMORES

 

É nas torres solitárias que se guardam

os segredos

as chaves que permitem aceder

aos céus mais raros

 

A noite é uma misteriosa fiandeira

de brumas e de mantos

Os seus dedos têm ágeis rocas e

A sua carne não verte sangue. Redes

 

Prisões, sepulcros, penedos ocupam sempre

as arcas

que o sol procura além-degredo.

 

in “Arte Régia”

 



Leonora Carrington



A MÃO CINÉTICA DO AZAR

[Texto Automático]

 

Lacem o vão da sineta

E que a telha sonhe dar

Pevide na hora da vide

Mastodôntico oracular

 

Já nu vai o dormido

Chá no dedo com que murchar

Chupar solha de malha

Paredão de lã a masturbar

 

Macedónia de Adão doura

Zenão por um tubo tocar

Andaram archotes à sova

A vara hélice o via nadar

 

Louco feito a guiar azeite

O cabeção sexagenário

Ralha a puxar o malho

A cada Maio o seu ralo

 

Chaves coxas despenham

As velhas do Pragal

Na enxerga hóstias de banho

Anilhas de purga sal

 

Fecho pedrês em aço de seio

Os ossos põem a mandar

Breu que gira a subir

Insonsa língua de leão

 

Êxtase em saldos de sangue

Orifícios de progressão

Sapo salta navio alto

Tojeiro de mafarrico

 

Despi-me em mudo aviso

Ó neves para cá do salto

Calças pranto nos peitos

Jaz a eito o dom no bidé

 

Aos portões do tijolal

Hei visto o deus das minas

Tomei um lar em jornal

Eças e penas nas eiras

 

Estucha triste até voar

Homem parede a fugir

André por perto a coçar

Ameixa no vinho de Celas

 

Pura goela de Ksar

Anão careca vasos fala

Que lhos puxaram a gritar

De arte hei bombo e bala

 

Perna guelra sem esfolar

Na cana o céu que abala

Da mão rota de agarrar

Arde bem a ratoeira

 

Na nuca o espaço curar

Correm vozes na eira

Num Agosto de cortar

Nove têm onde é cheio

 

Mar de rei ressaca em asas

Pelo ar o malte a secar

Nevou a cobiça em Malta

Aquela mole a segurar

 

As migas à rés têm claras

Dentífrico demito de aldear

Alcácer cego temeu canteiro

Calvícies te deram o ar

 

Aluguer do Anão perneta

Panela de heras ao mar

Caxemira peixe e vinho

Nauta poço anda a caiar

 

Mete a manhã nos cordões

Derreado na vila do ar

Assobio ao mestre leal

Ícaro à mão em quarta meta

 

Dispara através do ar

A mão cinética do azar

Cai em cheio com desenho

Quatro varas a nevar

 

Meterás o laço pelo meio

Pinhão de bem vedar

Mauro capão esmeraldo

Sumaúma encanada

 

Vozeirão de Deus a fritar

Jejum de bingo doido na asa

Águia calma a jeito de arrombar

Calcei o urubu em catinga

 

Vernáculo chupa a podar

Sabe esperá-lo o mestre Elo

Haver bichas a dar dália

Arreios mete em Penélope


[Obtido por tradução fonética]


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