Hélio Rola
[25]
O
que falta. A ausência. O que tens.
Presença
do ausente. O que sentes. O frio
nas
ruelas da cidade estranha.
É
bela a cidade estranha. Ausente.
a
beleza dela traz-te o rosto ausente.
Porquê?
Porque te falta?
Falta-te
porque o não tens. Porque o tiveste.
E
nas ruelas belas, frias, a presença que te falta
de
tão ausente, invade-te. E na voz suave
que
um rádio perdido canta, na voz dissonante
que
te serve uma outra voz, tu fazes presente a ausência,
beijas
a ausência, fazes da presença ausente
–
um talismã.
Esconderijos
Pequenos
tesouros escondidos
–
no bolso de um casaco,
num
escaninho.
Pequenos
tesouros revelados
–
uma foto tipo passe, um cartão
numa
gaveta.
Um
rosto, uma espera, malas em volta
–
numa sala inóspita,
candor
do olhar que aguarda.
E
depois a mão, a mão minuciosa,
a
boca com seus dentes, seu céu.
e
depois – a entrega, o tempo.
Lusco-fusco
O
tempo que perdeste algures
A
cidade estranha, familiar
A
noite clara que extravasa o dia
O
não saberes onde o perdeste
Contemporâneos,
a outro tempo pertencem
Falantes
da tua língua que não entendes
A
cidade familiar mas que é outra
E
a outra outrora não existe já
O
que vislumbraste no futuro é hoje agora
Tudo
é o mesmo e nada reconheces
Os
laços foram-se quebrando, e rasgados
Os
fios jazem sem costura – sem nó
Partiram
já alguns sem dizer adeus
Partirás
tu também sem saber aonde
O
laço que te prende aqui segura-te ao além
Para
ele te irá conduzir por entre a bruma
Mas
agora a noite no início é clara
E
transporta ainda a mais bela luz diurna
É
meio-dia na noite e na memória fulge
O
fulgor que esqueceste e estás certo que existe
Aguardas
e enquanto aguardas o fio te enlaça
A
um presente que aguarda o teu presente
E
pela noite adiante o cristal refracta
E
transmuta o estranho em presença nova
Vais
pelo mundo fora e há a mão que tocas
O
rosto que se abre A voz vibrante que te
recria
Nela
depositas o crédito, o laço e a aposta
Nela
deixas de ser tu e te confundes
–
nítido.
Sem comentários:
Enviar um comentário