segunda-feira, 26 de abril de 2021

Lino Mendes, Crónica na VERTICAL

 




A nossa identidade não tem preço


   Não obstante o Ministério respectivo o ter reconhecido oficialmente como “Cultura Tradicional”, o Folclore caiu neste período da pandemia na sua maior confusão de sempre, o que eu considero impensável e nada abonador da nossa cultura. E muito especialmente porque figuras cimeiras do momento não sabem interpretar a “convenção de 2003 da UNESCO” e há anos que se vem considerando com uma ligeireza irresponsável o CIOFF(*) como tradicional e folclore.

   Trata-se de três patrimónios imateriais, mas apenas um é folclore, aquele que assenta no autêntico, no tradicional. no identitário. A convenção - e basta ser convencionado para não ser folclore - assenta no constantemente transformado, na criatividade. Podemos até dizer que cada um é aquilo que o outro não pode ser.

   Para agravar a situação, o senhor Presidente da Federação defende em artigo do jornal Folclore que se deve à UNESCO o folclore não ter cortado com o passado, quando foi isso mesmo que ela fez com a convenção. Aliás, numa carta que a mesma UNESCO nos enviou, deixa bem claro que sendo o folclore a “tradição do passado”, a convenção dá-nos a “a tradição do contemporâneo”.

   Agora e quanto ao CIOF, é a situação mais absurda que se encontra na nossa cultura.

   Como é possível haver ali o folclore e o tradicional, se os respectivos festivais devem estar em conformidade com a Convenção da Salvaguarda do Intangível Património Cultural da UNESCO, isso é incluídos na tal “tradição do contemporâneo”. E como consequência de tudo isto temos cá o CIOFF PORTUGAL sem que os nossos grupos respeitem o regulamento, embora participem em festivais e organizem alguns dos mesmos.

   E uma nota final na mesma linha: a Federação organizou a Carta Tradicional do Folclore Português, que no fundo é a Carta Tradicional da Convenção de 2003.

   Já disse tudo o que tinha a dizer sobre a matéria, e já pedi o contraditório, mas ninguém contesta embora sigam por outros caminhos. Mas quem me conhece sabe que mais do que impor a minha ideia, importa clarificar a situação.

   Claro que isto é uma simples síntese do muito que se pode dizer para chegar ao pormenor.

   E, curioso, os amigos com quem agora estou em contradição são pessoas com os quais muito aprendi.

   Deixe-se, entretanto e aqui este REGISTO!

(*) - Grupos do CIOFF são aqueles que só aparecem em especial no verão, para participar dizem eles, em festivais internacionais de folclore, mas são escolas e companhias por vezes profissionais de dança, com coreógrafos. Nada têm de tradicional.

     Já o demonstrei fundamentando e ninguém apareceu a contestar. Fi-lo inclusivamente junto do Ministério da Cultura.

                                     (Nota do autor)

 

Lino Mendes


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