A
nossa identidade não tem preço
Não obstante o Ministério respectivo o ter
reconhecido oficialmente como “Cultura Tradicional”, o Folclore caiu neste
período da pandemia na sua maior confusão de sempre, o que eu considero impensável
e nada abonador da nossa cultura. E muito especialmente porque figuras cimeiras
do momento não sabem interpretar a “convenção de 2003 da UNESCO” e há anos que
se vem considerando com uma ligeireza irresponsável o CIOFF(*) como tradicional
e folclore.
Trata-se de três patrimónios imateriais, mas
apenas um é folclore, aquele que assenta no autêntico, no tradicional. no
identitário. A convenção - e basta ser convencionado para não ser folclore - assenta
no constantemente transformado, na criatividade. Podemos até dizer que cada um
é aquilo que o outro não pode ser.
Para agravar a situação, o senhor Presidente
da Federação defende em artigo do jornal Folclore que se deve à UNESCO o
folclore não ter cortado com o passado, quando foi isso mesmo que ela fez com a
convenção. Aliás, numa carta que a mesma UNESCO nos enviou, deixa bem claro que
sendo o folclore a “tradição do passado”, a convenção dá-nos a “a tradição do
contemporâneo”.
Agora e quanto ao CIOF, é a situação mais
absurda que se encontra na nossa cultura.
Como é possível haver ali o folclore e o
tradicional, se os respectivos
festivais devem estar em conformidade com a Convenção da Salvaguarda do
Intangível Património Cultural da UNESCO, isso é incluídos na tal “tradição do contemporâneo”.
E como consequência de tudo isto temos cá o CIOFF PORTUGAL sem que os nossos
grupos respeitem o regulamento, embora participem em festivais e organizem
alguns dos mesmos.
E uma
nota final na mesma linha: a Federação organizou a Carta Tradicional do
Folclore Português, que no fundo é a Carta Tradicional da Convenção de 2003.
Já
disse tudo o que tinha a dizer sobre a matéria, e já pedi o contraditório, mas
ninguém contesta embora sigam por outros caminhos. Mas quem me conhece sabe que
mais do que impor a minha ideia, importa clarificar a situação.
Claro
que isto é uma simples síntese do muito que se pode dizer para chegar ao
pormenor.
E, curioso,
os amigos com quem agora estou em contradição são pessoas com os quais muito
aprendi.
Deixe-se,
entretanto e aqui este REGISTO!
(*) - Grupos do CIOFF são aqueles que só aparecem em
especial no verão, para participar dizem eles, em festivais internacionais de
folclore, mas são escolas e companhias por vezes profissionais de dança, com
coreógrafos. Nada têm de tradicional.
Já o demonstrei fundamentando e ninguém
apareceu a contestar. Fi-lo inclusivamente junto do Ministério da Cultura.
(Nota do autor)
Lino Mendes
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