quinta-feira, 22 de abril de 2021

António Salvado, Poemas

 




“E DE SORRISO EM SORRISO…”

 

E de sorriso em sorriso

isso bastou   para amarem-se:

dizendo frugais palavras

mas sonoras de sentidos.

Nas langues horas vividas

era no silêncio grave

que os seus olhos se exaltavam,

que as suas bocas bebiam.

E quando os dedos se uniram,

quando as mãos s’entrelaçaram,

a noite havia surgido

como intenção desejada.

Depois    sem rumo partiram

para o amor consumarem.   

 

“UM FIO D’ÁGUA…”

 

Um fio d’água foi o teu passar

tão fugidio que os meus olhos    presos

àquele movimento de surpresa

quase sem ver    mas vendo-te    ficaram.

 

Tua figura esguia meneava-se

como folhas vernais dum arvoredo

que uma brisa veloz tivesse aflado

subitamente para mais crescerem.

 

E assim cruzaste a minha solidão

sorrindo tão de leve que nem lembro

se para mim olhaste    em tal exílio.

 

Mas satisfez o que me deste    então:

que uma fonte escondida existe sempre

capaz de brotar água: seja um fio.

 

“A COROA DE NÉVOA…”

 

A coroa de névoa

que sobrevoa a vila

será a porta aberta

ao começo do dia.

Permite penetrar-se

lenta    serenamente

por cores matizadas

que a coloram    também.

A pouco e pouco deixa

em pequenos fragmentos

que por ela se veja

o casario    além.

E janelas    que se abrem,

escancaradas portas:

o bulício usual

de tudo o que se move –

o repassar das gentes

trocando vãs palavras,

ou animais que arrastam

consigo iguais lamentos…

A névoa fugiu    longe,

e outra névoa    começa

em diverso horizonte

d’incertezas    nublado

e cada vez mais perto:

do dia a dia as mágoas

e ninguém que as impeça.


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