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Dia de anos
no aniversário do João
Barreiros
Hoje, fiz sessenta e
quatro.
Ontem, fiz sessenta e
três.
E, amanhã, não sei se não
farei anos outra vez
–
– que o tempo que eu
conhecia,
o tempo que era um
fadário,
certinho como um relógio
a posar pró calendário,
que antes me prometia
tudo, que era meu amigo,
pôs-se a olhar-me de lado
como ao pior inimigo…!
Mudou do dia p’rà noite!
Tornou-se indisciplinado,
resmunga, até cambaleia
como que embriagado…
Cada ano parece uma
das contas que mete ao
rol,
enquanto ri, escarninho:
“Mais uma voltinha ao
Sol…”
Já não sei o que lhe
faça,
mas não me leva por tolo!
Mesmo aqui, nas barbas
dele,
sopro as velas! Como
bolo…!
11.
A luz vinda do espelho envolve-te o
corpo
Ilumina-nos deste lado
Inclinas a cabeça para trás
Uma madeixa de cabelo ao canto da
boca
Perguntas gostas dela
Daquela cujo corpo acaricias?
O teu ventre ondula e ergue-se
suavemente
Marcando o ritmo das minhas mãos
O meus dentes seguram a tua nuca
O
meu corpo retesa-se arqueia-se
Desfaz-se de súbito em pura energia
Flecha sibilante do teu prazer
Tu e ela digo eu depois
Ensinaram-me o amor
De mim mesmo
Como poderia deixar de vos amar?
Amemo-nos os quatro então
Respondes tu
Húmidos como se tivéssemos acabado
de nascer
De novo
12.
As máquinas não voam, nós
voamos
Com elas e por elas no
horizonte,
Lá de dentro do qual nos
avistamos
Na estrada que julgamos
ver defronte.
Não são armas, são filhos
como cães,
Companheiras paridas do
existir
Do que ainda não somos,
anciães
Vagindo vidas vindas do
porvir.
Todo o mundo e ninguém
são. Contudo,
Ao erguerem-se nos sons
do universo,
Falam de nós, deste
viver, de tudo
O que, sendo já no que é,
por ora mudo,
Espreita e se espelha em
cada verso
Buscando o que, sendo um, se põe disperso
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