quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Nicolau Saião, Os melhores romances e novelas de 1900 à actualidade

 


   O romance e a novela, géneros eminentemente populares na medida em que a literatura o pode ser, foram durante algum tempo encarados por diversos pensadores (e, convenhamos, com certa razão) como prestes a esgotar o território literário específico, reduzido que estaria o seu campo de manobras. Especialistas houve que defenderam mesmo a ideia de que romance e novela iriam pouco a pouco entrar em ocultação por se ter tornado caduco o tipo de discurso que os fundamentava, havendo quem emitisse a opinião de que o seu desaparecimento seria apenas uma questão de tempo. Os referidos géneros, segundo esses analistas, tinham sido ultrapassados por outro tipo de relatos mais científicos e directos. O único comentário que me ocorre é que, no mínimo, esses analistas conheciam mal o mundo em que viviam – esse mundo sempre sedento de narrativas. Compreensivelmente, todavia, foi nessa altura que surgiu algo que veio reformar ou modificar a efabulação romanesca habitual: o chamado novo romance, aliás a breve trecho seguido por outras concepções inovadoras. É fácil verificar que o romance e a novela – e não estamos a referir-nos a sedimentos mefíticos como a narrativa cor-de-rosa, o obreirismo best-seller ou a literatura light – se aguentaram bem, sendo até neste tempo que vieram a lume alguns relatos explosivos e convincentes dos géneros que diziam pouco menos que moribundos. Renovadas as fibras naturalmente amolecidas da sua estrutura específica, romance e novela permanecem como vigias abertas na escuna da arte viva – tendo em atenção que maus e requentados narradores sempre houve e sempre haverá. Mas a esses cidadãos, por vezes ornados dum sucesso que lhes faz bom proveito, nada lhes devemos que valha a pena guardar – tanto mais que o tempo, com a sensatez que se lhe conhece, ajusta contas com eles e elas a cada década que passa. A lista que segue é composta pelas obras que a meu ver, nos dois géneros, gozam da absoluta perfeição e expressa-se em quarenta títulos divididos equitativamente, de 1900 à presente data. Por último, quero dizer que tenho da escrita, mormente quando se chama literatura, uma ideia que é esta: ela suscita emoções como um deserto ou um mar e é tão estimulante como uma montanha ou um bosque sombrio. Assim sendo, acreditando que neste mundo frequentemente invertebrado há que ter a decência e a galhardia de afirmar, digo que a minha lista a proponho tendo contudo, obviamente, todo o respeito por outras opiniões muito diferentes.

Vinte romances

 O homem sem qualidades – Robert Musil

Narciso e Goldmundo – Hermann Hesse

 As caves do Vaticano – André Gide

 O desertor – Lajos Zilahy

Margarita e o mestre – Mikhail Bulgakov

 O falecido Matias Pascal – Luigi Pirandelo

Semana santa – Louis Aragon

Os nus e os mortos- Norman Mailer

Em busca do tempo perdido – Marcel Proust

A obra ao negro – Marguerite Yourcenar

 A montanha mágica – Thomas Mann

A ponte sobre o Drina – Ivo Andric

 Os sonâmbulos - Herman Broch

O parque das corças – Norman Mailer

As raízes do céu – Romain Gary

A consciência de Zeno – Ítalo Svevo

 Debaixo do vulcão – Malcolm Lowry

Adoração – Jacques Borel

O hussardo sobre o telhado – Jean Giono

 Os jovens leões – Irwin Shaw

 

Vinte novelas

A viola – Michel del Castillo

 O caso de Charles Dexter Ward – H.P.Lovecraft

 O ouro – Blaise Cendrars

Os mágicos – J.B.Priestley

Uma agulha no palheiro – J.D.Salinger

 Musk - Percy Kemp

A fábrica de absoluto – Karel Kapek

A confissão da meia-noite – Georges Duhamel

A margem – André Pieyre de Mandiargues

Almas cinzentas – Philipe Claudel

 A queda – Albert Camus

O segredo da curva das dunas – Geoffrey Jenkins

 O incendiário – Egon Hostovski

Cosmos – Witold Gombrovicz

O pássaro pintado – Jerzy Kosinski

O homem da montanha – Dino Buzzatti

Versão original – Bill S. Ballinger

O cavalo de Herbeleau – Jean Husson

O perfume – Patrick Susskind

O jardineiro do rei – Frédéric Richaud

 

                                                             ns


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