O romance e a novela, géneros eminentemente
populares na medida em que a literatura o pode ser, foram durante algum tempo
encarados por diversos pensadores (e, convenhamos, com certa razão) como
prestes a esgotar o território literário específico, reduzido que estaria o seu
campo de manobras. Especialistas houve que defenderam mesmo a ideia de que
romance e novela iriam pouco a pouco entrar em ocultação por se ter tornado
caduco o tipo de discurso que os fundamentava, havendo quem emitisse a opinião
de que o seu desaparecimento seria apenas uma questão de tempo. Os referidos
géneros, segundo esses analistas, tinham sido ultrapassados por outro tipo de
relatos mais científicos e directos. O único comentário que me ocorre é que, no
mínimo, esses analistas conheciam mal o mundo em que viviam – esse mundo sempre
sedento de narrativas. Compreensivelmente, todavia, foi nessa altura que surgiu
algo que veio reformar ou modificar a efabulação romanesca habitual: o chamado novo
romance, aliás a breve trecho seguido por outras concepções inovadoras. É
fácil verificar que o romance e a novela – e não estamos a referir-nos a
sedimentos mefíticos como a narrativa cor-de-rosa, o obreirismo best-seller ou
a literatura light – se aguentaram bem, sendo até neste tempo que vieram
a lume alguns relatos explosivos e convincentes dos géneros que diziam pouco
menos que moribundos. Renovadas as fibras naturalmente amolecidas da sua
estrutura específica, romance e novela permanecem como vigias abertas na escuna
da arte viva – tendo em atenção que maus e requentados narradores sempre houve
e sempre haverá. Mas a esses cidadãos, por vezes ornados dum sucesso que lhes
faz bom proveito, nada lhes devemos que valha a pena guardar – tanto mais que o
tempo, com a sensatez que se lhe conhece, ajusta contas com eles e elas a cada
década que passa. A lista que segue é composta pelas obras que a meu ver, nos
dois géneros, gozam da absoluta perfeição e expressa-se em quarenta títulos
divididos equitativamente, de 1900 à presente data. Por último, quero dizer que
tenho da escrita, mormente quando se chama literatura, uma ideia que é esta:
ela suscita emoções como um deserto ou um mar e é tão estimulante como uma
montanha ou um bosque sombrio. Assim sendo, acreditando que neste mundo
frequentemente invertebrado há que ter a decência e a galhardia de afirmar,
digo que a minha lista a proponho tendo contudo, obviamente, todo o respeito
por outras opiniões muito diferentes.
Vinte
romances
O
homem sem qualidades – Robert Musil
Narciso e Goldmundo – Hermann Hesse
As
caves do Vaticano – André Gide
O
desertor – Lajos Zilahy
Margarita e o mestre – Mikhail Bulgakov
O
falecido Matias Pascal – Luigi Pirandelo
Semana santa – Louis Aragon
Os nus e os mortos- Norman Mailer
Em busca do tempo perdido – Marcel Proust
A obra ao negro – Marguerite Yourcenar
A
montanha mágica – Thomas Mann
A ponte sobre o Drina – Ivo Andric
Os
sonâmbulos - Herman Broch
O parque das corças – Norman Mailer
As raízes do céu – Romain Gary
A consciência de Zeno – Ítalo Svevo
Debaixo
do vulcão – Malcolm Lowry
Adoração – Jacques Borel
O hussardo sobre o telhado – Jean Giono
Os
jovens leões – Irwin Shaw
Vinte
novelas
A viola – Michel del Castillo
O
caso de Charles Dexter Ward – H.P.Lovecraft
O
ouro – Blaise Cendrars
Os mágicos – J.B.Priestley
Uma agulha no palheiro – J.D.Salinger
Musk
- Percy Kemp
A fábrica de absoluto – Karel Kapek
A confissão da meia-noite – Georges
Duhamel
A margem – André Pieyre de Mandiargues
Almas cinzentas – Philipe Claudel
A
queda – Albert Camus
O segredo da curva das dunas – Geoffrey
Jenkins
O
incendiário – Egon Hostovski
Cosmos – Witold Gombrovicz
O pássaro pintado – Jerzy Kosinski
O homem da montanha – Dino Buzzatti
Versão original – Bill S. Ballinger
O cavalo de Herbeleau – Jean Husson
O perfume – Patrick Susskind
O jardineiro do rei – Frédéric Richaud
ns
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