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O PRODÍGIO DAS TINTAS
Sopra-nos o vento a
música de seu fulgor:
um elo de ecos, um verso
de Gonzalo Rojas,
a espinha do universo no
piano
de
Thelonius Monk em Memories of you.
Lugar metafísico onde
tudo combina
com seu diverso e outro
latejo.
Em um desses momentos por
onde cruzamos
as gélidas ruas de Kafka,
a alma esplende em
metamorfoses.
Por ali nos indagamos do
equívoco do enigma:
– por que tudo é sempre o
mistério do vir a ser,
a almofada do
maravilhoso, seu estalo de trevas.
Sons de palavras: letras
que surgem
do obscuro ritmo
entrelaçado de nossos nomes
– do entreato da sagrada
miséria às minúcias de nossa queda,
a um só tempo dialética e
mundana.
Livros de sons: a voz
deixada no oco da tradição,
notas do prodígio que é
seguir vivendo
lendo o misterioso nas
páginas de Bataille Blake Benn.
Por ali nos indagamos e a
tinta não cessa não cessa.
TRATADOS DA SOMBRA
1. O poeta é exigido por uma angústia
vital:
aquela do desenlace em si de uma nova
transparência a partir de toda a opacidade
de sua vida. Tudo nele busca o desespero
iluminado das formas, sua convulsão
precipitada sobre a beleza das imagens
aterradoras. Refere-se o poeta sempre
ao outro que ainda não conseguiram tocar
suas débeis figuras. Indigente do instante
e do conhecimento do mistério, concebe
para si a tarefa de escrever um livro
impossível: o da personificação da morte.
Dissolve-se na matéria de suas metáforas,
misturado à visão do livro findo
inacabado.
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