quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Um poema de Philippe Denis

 

A JACQUES DUPIN

 

 

      1.   Sobre a vidraça coberta de névoa, quantas vezes

é preciso escrever a ausência?

 

Página sulcada de mãos.

 

Andorinha – de salto em salto – contigo

regresso   até à nascente.

 

Debaixo do arco convexo da ramaria

na planura, o riso dum camponês

antecipa a rudeza da subida.

 

Com eles me cruzo, na volta dos caminhos.

 

Minúsculos contactos que me dão

a sua silhueta.

 

O país mudou de língua, por estas veredas

quando às quintas se chega, um cão ladra

e disso me dou conta.

 

Palpitam as folhas duma planta – a ligeireza

de tudo o que a enquadra.

 

Zumbidos. Toda a noite. Insecto morto, afogado

no algodão da manhã.

 

Caminho que nos leva a esta trémula casa.

 

 

     2.  O vento sopra até junto desta palavra que as minhas

mãos mais não fazem que torcer para que delas saia

a inesperada frescura.

 

Planta abundante nos livros dos ervanários. E tudo

exulta sob o manto das árvores, entre a folhagem

pleno de inocência.

 

Doce piedade transbordante. Piedade

da outra metade do céu.

 

Purpúreo, nos dosséis silenciosos, o diálogo

das flores entre si.

 

            Vibrantes, estes nadas – que tudo tocam.

 

                                                                             in Éclogas (Eclogues)

 

Tradução de ns



 (Paris, 1950. A obra completa deste autor tem a chancela da Mercure de France. Viveu em Portugal e foi professor de língua e literatura francesas na universidade coimbrã).


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