A
JACQUES DUPIN
1. Sobre a vidraça coberta de névoa,
quantas vezes
é preciso
escrever a ausência?
Página sulcada
de mãos.
Andorinha – de
salto em salto – contigo
regresso até à nascente.
Debaixo do arco
convexo da ramaria
na planura, o
riso dum camponês
antecipa a
rudeza da subida.
Com eles me
cruzo, na volta dos caminhos.
Minúsculos
contactos que me dão
a sua silhueta.
O país mudou de
língua, por estas veredas
quando às
quintas se chega, um cão ladra
e disso me dou
conta.
Palpitam as
folhas duma planta – a ligeireza
de tudo o que a
enquadra.
Zumbidos. Toda a
noite. Insecto morto, afogado
no algodão da
manhã.
Caminho que nos
leva a esta trémula casa.
2. O vento sopra até junto desta
palavra que as minhas
mãos mais não
fazem que torcer para que delas saia
a inesperada
frescura.
Planta abundante
nos livros dos ervanários. E tudo
exulta sob o
manto das árvores, entre a folhagem
pleno de
inocência.
Doce piedade
transbordante. Piedade
da outra metade
do céu.
Purpúreo, nos
dosséis silenciosos, o diálogo
das flores entre
si.
Vibrantes, estes nadas – que tudo
tocam.
in Éclogas (Eclogues)
(Paris, 1950. A
obra completa deste autor tem a chancela da Mercure de France. Viveu em
Portugal e foi professor de língua e literatura francesas na universidade
coimbrã).
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