quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Um poema de Léopold S. Senghor

 

PARA UMA JOVEM NEGRA DE CALCANHAR RÓSEO

 

No céu primitivo erguem-se imaculados os cantos dos pássaros

e o fresco cheiro da erva ágil com eles se ergue, Abril.

Ouço o respirar prof 

 undo da madrugada movendo as nuvens

brancas dos cortinados

e escuto a canção do sol nos taipais das janelas

melodiosas.

Sinto como que um hálito ou uma recordação de Naett

na minha nuca apaixonada e nua

E o meu sangue cúmplice, a despeito de mim, chocalha-me

nas veias.

És tu, minha amiga – ô! Escuta os suspiros    escuta

os quentes suspiros neste Abril dum continente novo

Oh escuta, enquanto deslizam, no gelado azul, as asas

das andorinhas migratórias

e não te esqueça ouvir o murmúrio negro e branco das aves

de arribação

horizontais no extremo das suas velas desdobradas.

 

Escuta a mensagem da Primavera duma outra idade, dum outro

mundo

Escuta a mensagem da África longínqua e velha e a canção

do teu sangue

Pois eu estou ouvindo a seiva de Abril que nas tuas veias

 

cantando me desafia.

 

                                                              in “Cântico da Primavera”

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