COMOÇÃO DE NATAL
Eu sou um espião mais que perfeito
os olhos as mãos a silhueta
tudo o que fui aprendendo tudo o
que esqueci
tudo quanto Senhor vi depois da
vossa morte
até as colheres de madeira e o
prato grosseiro
ao jantar
ao começo da noite
mesmo as peúgas esburacadas do meu
primo
mesmo a camisa esfarrapada do meu
pai
os alegres e tristes olhos da minha
mãe
e quanto compramos sem pagarmos
e sem um deus lhe pague
Tudo isso guardo no meu coração.
Nas noites nos dias da minha adolescência
quando a meditar me sentava
na pedra pintada de branco
no meio da horta da pequena
Armandine
que me ofertava castanhas cozidas
quando era tempo de Outono
e me limpava o rosto com um lenço
de linho
olhando o meu suor de sangue.
Tudo isso é o meu tesouro
caro Senhor para si e para os
vossos anjos
para os vossos assistentes na
floresta do céu
para os notários de vosso augusto
Pai
sem esquecer o garoto que vós
fostes
e mesmo o mendigo que vos ajudou
a montar sobre o burrinho
que vos levou até à porta Susa
naquele dia da Páscoa.
Assim, Senhor, perdoai-me
as minhas faltas
as minhas repentinas alegrias
os meus silêncios estranhos
e todos os poemas que foram só
pensamento.
(Tradução ns)
*
Jules Auguste de Minvelle Morot nasceu
em 1973 em Alc-le-Courtnay.
Poemas dispersos em jornais e revistas,
nomeadamente interactivas, depois agrupados e dados a lume sob o título “Le
mardi-gras” (alguns dos quais saídos em Portugal na “DiVersos – revista de
poesia e tradução”, na página interactiva paulista Cronópios/Musa Rara e no
TriploV).
Em prosa deu a lume “La chambre engloutie”,
relatos e reflexões novelizadas de que extractos saíram na revista cearense, de
Fortaleza, “AGULHA”.
Licenciado em biologia marinha, exerceu o
professorado. Depois da morte de seu pai tomou conta do ramo (criação de
vinhos) em que sua família fez tradição.
Sem comentários:
Enviar um comentário