segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Um poema de Jules Morot

 

COMOÇÃO DE NATAL

 

Eu sou um espião mais que perfeito

os olhos as mãos a silhueta

tudo o que fui aprendendo tudo o que esqueci

tudo quanto Senhor vi depois da vossa morte

até as colheres de madeira e o prato grosseiro

ao jantar

ao começo da noite

mesmo as peúgas esburacadas do meu primo

mesmo a camisa esfarrapada do meu pai

os alegres e tristes olhos da minha mãe

e quanto compramos sem pagarmos

e sem um deus lhe pague

 

Tudo isso guardo no meu coração.

 

Nas noites nos dias da minha adolescência

quando a meditar me sentava

na pedra pintada de branco

no meio da horta da pequena Armandine

que me ofertava castanhas cozidas quando era tempo de Outono

e me limpava o rosto com um lenço de linho

olhando o meu suor de sangue.

 

Tudo isso é o meu tesouro

caro Senhor para si e para os vossos anjos

para os vossos assistentes na floresta do céu

para os notários de vosso augusto Pai

sem esquecer o garoto que vós fostes

e mesmo o mendigo que vos ajudou

a montar sobre o burrinho

que vos levou até à porta Susa

naquele dia da Páscoa.

 

Assim, Senhor, perdoai-me

as minhas faltas

as minhas repentinas alegrias

os meus silêncios estranhos

 

e todos os poemas que foram só pensamento.

 

                                                              (Tradução ns)

 

                                                            *

 

    Jules Auguste de Minvelle Morot nasceu em 1973 em Alc-le-Courtnay.

 Poemas dispersos em jornais e revistas, nomeadamente interactivas, depois agrupados e dados a lume sob o título “Le mardi-gras” (alguns dos quais saídos em Portugal na “DiVersos – revista de poesia e tradução”, na página interactiva paulista Cronópios/Musa Rara e no TriploV).

 Em prosa deu a lume “La chambre engloutie”, relatos e reflexões novelizadas de que extractos saíram na revista cearense, de Fortaleza,  “AGULHA”.

  Licenciado em biologia marinha, exerceu o professorado. Depois da morte de seu pai tomou conta do ramo (criação de vinhos) em que sua família fez tradição.


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