Debaixo de chuva és o sol, ele te aquece
Te alegra, e uma luz tu irradias;
Tu transfiguras o cinzento destes dias
E a sua razão, por tão natural, te esquece.
De todo imune às circunstâncias exteriores
Essa luz nasce em ti, alumia, está dentro
Não é reflectida. És tu própria o centro
Do júbilo suplantando todos os favores…
Debaixo de chuva, sim, sem te aperceberes
Tu transportas, inteiro o sol, brilha, só
Aparentemente encoberto. Qual a mó
Que ao moinho não pergunta seus funcionares
Nada, bem o sei, te espanta ou arrefece.
Por entre a chuva espelhas o sol. E aqueces.
*
SONETO CAMONIANO
Mudam-se os tempos mudam-se as vontades
Permanecem os problemas e as confusões
- Jamais um homem se perdeu nas multidões
O vão propósito jamais ergueu uma cidade!
Todos os meses há chatices coisas certas
Para um dinheiro visivelmente minguante;
Desculpem-me o facto comezinho e rastejante
Possa Camões perdoar estas musas e suas ofertas!
Mas é este um canto nobre e digno, e até ver
Também aqui a pressão do concreto queima a asa
De quem teve um grande sonho mas ficou em casa
- Não se perdeu, ainda não, o hábito de comer!
Mudam-se os tempos e às vezes as vontades mudam
Só o homem permanece – e as questões que o animam.
*
VER CHOVER
Como é bom, oh meus amigos, aqui, deste lado de dentro
Simplesmente ver chover! É uma paz na alma, riqueza
Assim regular e certinha, na vertical, beleza
Da água tudo abençoando, do Norte ao Sul e ao Centro!
Também nas Ilhas, diz-se. É pois bem geral este espectáculo
Com a natureza alguém por inteiro se deleitar!
No meu caso é o azado pretexto para me esquivar
A outras obrigações, louvado seja o líquido obstáculo!
E vejo chover, oh meus amigos, simplesmente chover
Pelas persianas abertas, a vidraça enfim lavada;
Vejo chover na mesma alegria com que a neve é recordada
__ Alma de camponês que no fundo jamais deixei de ter…
Chova pois, esta água é vida, não é de mais, vazias
Talvez as albufeiras, cheios e molhados estes dias.
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