(Buenos Aires, 1889 – Genebra 1986)
O FORASTEIRO
Despachadas as cartas e o telegrama
caminha pelas ruas indefinidas
e nota leves diferenças a que não
dá importância
pois pensa em Aberdeen ou em
Leyden,
para ele mais vívidas que este
labirinto
de linhas rectas, não de
complexidade
aonde o leva o tempo de um homem
cuja vida verdadeira está bem
longe.
Numa habitação numerada
fará depois a barba ante um espelho
que não voltará a reflecti-lo
e parecer-lhe-á que esse rosto
é mais inescrutável e mais firme
do que a alma que o habita
e que ao longo dos anos o vai
lavrando.
Cruzar-se-á contigo em qualquer rua
e tu só notarás que é alto e
grisalho
e que olha para as coisas.
Uma mulher indiferente
a tarde lhe dará e o que sucede
do outro lado de umas portas. O
homem
pensa que esquecerá a sua cara e
irá lembrar
anos depois, perto do mar do Norte,
a persiana ou a lâmpada.
Nessa noite, os seus olhos
contemplarão
num rectângulo de formas
passageiras,
o cavaleiro e a épica pradaria,
porque o Faroeste abarca o planeta
e espelha-se nos sonhos dos homens
que jamais o pisaram.
Na intensa penumbra, o desconhecido
crer-se-á na sua cidade
e surpreender-se-á ao sair numa
outra
de uma outra linguagem e outro céu.
Antes da agonia
o inferno e a glória nos estão
dados:
andam agora por esta cidade, Buenos
Aires,
que para o forasteiro do meu sonho
(o forasteiro que fui sob outros
astros)
é uma série de imagens imprecisas
feitas para o olvido.
(Trad. de ns)
Sem comentários:
Enviar um comentário