O SONHO DE BERTIMEO Não posso ver a minha indigência
como um cajado às apalpadelas bate na
rocha da noite quer beber da água que lava a cinza dos olhos do mundo então alguém me lança um
sonho passa um deus limpa as minhas
pálpebras com a sua saliva vejo todos os rios
dividirem-se todas as águas
confluirem é demais afundo-me até o
pescoço no rio originário e contemplo as
macieiras à sua beira estendo-me na erva desdobro um muito precioso
manto branco que comprei lá em Esmirna volto a comer da maçã vejo Eva chegar Eva que dança com brancos pés na
manhã do rio o fulgor cega-me e desperto é o veneno da maçã não posso ver busco o cajado à minha direita à minha esquerda dorme uma mulher toco no seu rosto tem a cara do deus mas está cega. VOO NOCTURNO/Arte Poética Essa luz que se apaga não é um império nem um vaga-lume. Antoine sabia-o, soube-o voando sobre a
Patagónia. Essa luz que se apaga é uma casa que cessa de fazer os
seus ademanes ao resto do mundo, um palácio — um humilde palácio se tal coisa é possível: todas as
casas do homem são
um palácio, todos os palácios do homem uma cabana — um palácio, dizia Antoine, que se fecha sobre o seu amor.
Ou sobre o seu tédio. Uma luz vacilante à qual — frio ao calor — uns camponeses reunidos se aferram náufragos que balançam um fósforo ante a imensidade desde uma ilha deserta. (Tradução de Pedro Sevylla de Juana e colaboração de NS) |
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