Anne Frank
Agora tudo promete.
Toda a gente fala sem maneiras.
Tu poderás voltar
com uma outra infância
uma boneca
que tenha encontrado a língua.
Tu terás de novo as brincadeiras
de que nunca tiveste medo
a magia
como tu a imaginavas
antes do grito da roseira
e do desgosto das rolas.
Ludwig van Beethoven
«O som profundo da verdadeira alegria… »
Heiligenstadt, 6 de Outubro de 1802
Não o soube conservar
e para o voltar a sentir
socorri-me da mais longa das
encruzilhadas
por entre o canto dos pardais;
entretanto passaram os Invernos,
as manhãs cinzentas destilam
um sol impaciente,
num planeta irreflectido
atravessado por silogismos.
O som profundo da verdadeira
alegria
favorece uma efervescência
e produz por vezes choques
em que a vida parece ofegante
com seus enganos e delicadezas.
O som profundo da verdadeira
alegria
como um fundo de melodia
arrebata o infortúnio
e no obscuro
desabrocha.
Outonal
Nos jardins secretos
as flores não escondem
senão o que dizem as folhas
vendo chegar o Outono
nos braços do vento
nos braços
dos amores que desaparecem.
Poetas
Não tiveram de seu
mais que a impressão
de pertencer ao século
e de entrar com ele
num reino onde a inocência
reconhece as suas colinas vagas
tomadas pelas rosas.
Viam-se crescer
falavam deles
os seus livros
eram como vestidos de seda
fazendo sonhar as mulheres.
Terá chegado um rasgão
a moda
um verso a mais
a morte
e a euforia bateu em debandada.
Cada manhã conserva um prodígio
escuta
uma palavra sonha o que será
logo que tenha seguido
o homem que lhe abre o caminho
por entre as nuvens.
François Villon
Nós já nos cruzámos
não sei mais onde
tu atravessavas a noite
eu ia
de cometa em cometa
não compreendendo de todo
porque tinhas desaparecido
sem me deixar uma palavra
nem a tua última morada.
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