quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Poemas de Jean-Paul Mestas (tradução de Cristino Cortes)

 

Anne Frank


Agora tudo promete.

Toda a gente fala sem maneiras.

Tu poderás voltar

com uma outra infância

uma boneca

que tenha encontrado a língua.

 

Tu terás de novo as brincadeiras

de que nunca tiveste medo

a magia

como tu a imaginavas

antes do grito da roseira

e do desgosto das rolas.

 

 

Ludwig van Beethoven

 

                                                     «O som profundo da verdadeira alegria… »

                                                                Heiligenstadt, 6 de Outubro de 1802 

 

 

Não o soube conservar

e para o voltar a sentir

socorri-me da mais longa das encruzilhadas

por entre o canto dos pardais;

 

 

entretanto passaram os Invernos,

as manhãs cinzentas destilam

um sol impaciente,

num planeta irreflectido

atravessado por silogismos.

 

 

O som profundo da verdadeira alegria

favorece uma efervescência

e produz por vezes choques

em que a vida parece ofegante

com seus enganos e delicadezas.

 

 

O som profundo da verdadeira alegria

como um fundo de melodia

arrebata o infortúnio

e no obscuro

                     desabrocha.

 

Outonal 

 

                                           

Nos jardins secretos

as flores não escondem

senão o que dizem as folhas

vendo chegar o Outono

nos braços do vento

nos braços

dos amores que desaparecem.

 

 

Poetas

 

Não tiveram de seu

mais que a impressão

de pertencer ao século

e de entrar com ele

num reino onde a inocência

reconhece as suas colinas vagas

tomadas pelas rosas.

Viam-se crescer

   falavam deles

   os seus livros

   eram como vestidos de seda                              

   fazendo sonhar as mulheres.

 

    Terá chegado um rasgão

     a moda

     um verso a mais

     a morte

 

     e a euforia bateu em debandada.

 

Cada manhã conserva um prodígio

escuta

uma palavra sonha o que será

logo que tenha seguido

o homem que lhe abre o caminho

por entre as nuvens.

         

 

François Villon

 

 

Nós já nos cruzámos

não sei mais onde

tu atravessavas a noite

eu ia

de cometa em cometa

não compreendendo de todo

porque tinhas desaparecido

sem me deixar uma palavra

nem a tua última morada.


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