As Montanhas
As montanhas crescem
partem às vezes
na água do peito
só o frio
as trespassa
lentamente
se a neve
e o silêncio
as envolvem
de uma casta
e súbita
serenidade
Às vezes regressam
carregadas
de estrelas
às vezes partem
às vezes ficam
e é a memória
que vai tecendo
um registo
de contornos
mais lúcidos
e vivos
como arestas
ou asas perdidas
de luminosas
aves
As Casas Morrem
As casas morrem
lentamente
sobre a água
ou escondem-se
sob a luz mítica
da madrugada
vejo-as desaparecer
transformarem-se
na sua memória
serem a dor adormecida
de outras casas
de outras águas
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