quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Um poema de Derek Soames

 

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    Geógrafo e poeta, nasceu em Ashbury (1968). Autor de “Paths of wrath and life”. Vive em Belle Island, South Africa. Em Portugal foi publicado pela DiVersos.

 

CONSELHOS A UM JOVEM POETA

 

No Outono, como és um bom rapaz

e a estação incita às boas maneiras

antes do entardecer, à hora do jantar

ouves tal qual na Rádio os amados Mestres

dizendo com meiguice  com majestosa serenidade:

 

Fala do que sabes, do que vês

Olha além o Oceano  Principe das fábulas

Uma resma de angústias de espantos de alegrias.

Faz isto assim e assim e depois deita-lhe molho.

Fala com voz franzida como os companheiros de bulício.

Prepara-te para resistir aos séculos.

 

Mas eu digo-te moço: atenção aos sinais

Põe-te um bocadinho na retranca

Cria fôlego, desatrela os joelhos

Prepara-te para correr.

 

Como és um bom e amável companheiro

de mão aberta no ar

como pequena planta ou flor primaveril

em dias de alegre sol os teus ouvidos amplificam-se

e começam a chegar-te maviosas vozes do éter:

A nossa voz é bela como o recado duma amante

Estamos deste lado  onde florescem as roseiras

Maridião Setentrião  Temos os segredos das auroras

Etc. e tal

 

Mas eu digo-te e desculpa lá o mau jeito

- raspa-te, pula, sê mesmo uma lebre dos matos

dá às de vila diogo e não olhes para trás.

 

A rapariga formosa com um espelhinho na dextra

e um pente de marfim na sinistra

não lhe achas mesmo um ar esquisito?

Bom, é lá contigo

 

Mas eu digo-te e desculpa lá se te estorvo:

- dá o fora, desarranca-te, põe-te n’alheta

Em suma, desaparece a sete pés

Sê mesmo como corça dos velhos bosques

Pula corre todo o cuidado é pouco.

 

És um belo parceiro, atento arguto

quiçá um poucochinho um poucochinho palonço

- uma coisa como sabes às vezes inclui a outra –

calmo lendo devotamente os anjos e os arcanjos

da santa época literária

 

Mas eu digo-te e perdoa lá se te atravanco:

- salta já, arrebimba, dá sebo nas canelas

safa-te antes que seja tarde.

 

Não tens notado umas figuras evanescentes

nas ruas que, julgas tu, tão bem conheces?

Não notas que a dama do lado ou o senhor vagaroso

parecem ter na face umas sombras mais que suspeitas?

Quando transpões a porta quando olhas em redor

não sentes os minutos assim a modos que encolhidos?

 

Sim, és um bom sujeito. Repleto de conceitos

tão fiáveis e perfeitos como os de Séneca ou Pascal.

Mas não tens notado algures presenças algo difusas

c’um ar um pouco estranho como no cinema os monstros?

 

(Trad. ns)


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