Geógrafo
e poeta, nasceu em Ashbury (1968). Autor de “Paths of wrath and
life”. Vive em Belle
Island, South Africa. Em Portugal foi publicado pela DiVersos.
CONSELHOS
A UM JOVEM POETA
No Outono, como és um bom rapaz
e a estação incita às boas maneiras
antes do entardecer, à hora do jantar
ouves tal qual na Rádio os amados Mestres
dizendo com meiguice com majestosa serenidade:
Fala do que sabes, do que vês
Olha além o Oceano Principe das fábulas
Uma resma de angústias de espantos de
alegrias.
Faz isto assim e assim e depois deita-lhe
molho.
Fala com voz franzida como os companheiros
de bulício.
Prepara-te para resistir aos séculos.
Mas eu digo-te moço: atenção aos sinais
Põe-te um bocadinho na retranca
Cria fôlego, desatrela os joelhos
Prepara-te para correr.
Como és um bom e amável companheiro
de mão aberta no ar
como pequena planta ou flor primaveril
em dias de alegre sol os teus ouvidos
amplificam-se
e começam a chegar-te maviosas vozes do
éter:
A nossa voz é bela como o recado duma
amante
Estamos deste lado onde florescem as roseiras
Maridião Setentrião Temos os segredos das auroras
Etc. e tal
Mas eu digo-te e desculpa lá o mau jeito
- raspa-te, pula, sê mesmo uma lebre dos
matos
dá às de vila diogo e não olhes para trás.
A rapariga formosa com um espelhinho na
dextra
e um pente de marfim na sinistra
não lhe achas mesmo um ar esquisito?
Bom, é lá contigo
Mas eu digo-te e desculpa lá se te
estorvo:
- dá o fora, desarranca-te, põe-te
n’alheta
Em suma, desaparece a sete pés
Sê mesmo como corça dos velhos bosques
Pula corre todo o cuidado é pouco.
És um belo parceiro, atento arguto
quiçá um poucochinho um poucochinho
palonço
- uma coisa como sabes às vezes inclui a
outra –
calmo lendo devotamente os anjos e os
arcanjos
da santa época literária
Mas eu digo-te e perdoa lá se te
atravanco:
- salta já, arrebimba, dá sebo nas canelas
safa-te antes que seja tarde.
Não tens notado umas figuras evanescentes
nas ruas que, julgas tu, tão bem conheces?
Não notas que a dama do lado ou o senhor
vagaroso
parecem ter na face umas sombras mais que
suspeitas?
Quando transpões a porta quando olhas em
redor
não sentes os minutos assim a modos que
encolhidos?
Sim, és um bom sujeito. Repleto de
conceitos
tão fiáveis e perfeitos como os de Séneca ou
Pascal.
Mas não tens notado algures presenças algo
difusas
c’um ar um pouco estranho como no cinema
os monstros?
(Trad.
ns)
Sem comentários:
Enviar um comentário