"A finalidade
de uma obra de arte é a de tornar sensível o mistério dos elementos que esta
põe em jogo" disse um dia Michel Leiris. Dizendo de outra forma, é uma
comunicação especializada que, contudo, possui em si uma mistério
frequentemente intraduzível e, daí, incomunicante no largo mundo em que se
transformou (em que transformaram) o universo societário. A comunicação por
extenso ficou assim transmutada em algo de quase secreto, de imarcescível e
que, para que haja apreensão dos seus ritmos mais solenes, carece de chaves, de
pistas - que no entanto estão ao alcance de quem se disponha a prescrutá-las, a
inquiri-las mediante um profundo apego à inteligencia dos afectos que se têm da
Arte e da Humanidade encaradas como dois continentes de consciencialização e de
ética das vivências.
Como se usa dizer em linguagem do dia-a-dia, "há males que vêm por bem" e, se esta "incomunicação comunicante" coloca
aos menos avisados obstáculos de entendimento, no fundo é ela que garante que
os "objectos artísticos"
criados não são meras matérias filhas do lugar-comum, da facilidade primária e
da vulgaridade manipulatória.
Ao oferecer a todos esta meia-dúzia de obrinhas que congeminei nas
minhas horas, presentinhos de Verão modestos de quem não é grão-fino, saliento
que as dificuldades - tal como na Arte - podem ser matéria de adequação para um
mais lúcido viver futuro, afastadas que foram as "facilidades" burlonas que buscaram nos capturassem e
afinal mais não eram que ouro de pechisbeque. Com coragem, brio e determinação,
apesar dos tempos negros que já estão sobre a nossa cabeça por mor da ideologia
que nos querem incutir, busque-se que os tempos a vir tenham um vigor mais
fecundo.
ns
Sem comentários:
Enviar um comentário