António Maria Lisboa
Senhora mãe é
uma escadaria de costas para o poente
as mãos no
peito, “as mamas na varanda”.
No passe-vite,
nos brinquedos do menino
na fome do
menino
Senhora mãe vai esmigalhando
deus e o diabo
pela tarde fora
pelo silêncio
adentro.
Um pardal poisa
em frente ao sol do poema
vem do Norte
vem de trás do
tempo
na Senhora mãe o
pardal goteja
a loucura
inominada
do nome das
casas
um pardal de
erva submete a primavera
em Novembro,
Senhora mãe,
um pardal sem
choro semeia o vendaval
parte vidros
sorri atrás da porta
chupa-te os dedos Senhora mãe
aniquila no teu
vestido vermelho
o teu palácio
apocalíptico
o teu silêncio
de mina
as serpentinas
de arame
nos teus olhos
de escadaria
batendo
maternalmente no poema
que um poema
é maior que um
filho penteado.
Enviado a NS em Dezembro de 80, foi por este dado a lume posteriormente na Página Literária do semanário alentejano “A Rabeca”, que orientava.
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