segunda-feira, 6 de julho de 2020

Um poema de José do Carmo Francisco





Domingo à tarde em Falconwood

O olhar do menino entrou no meu poema / E não mais saiu. Era um olhar sentido /
Na revolta de uma exclusão cruel e súbita.
Sentado num banco frente à mesa da festa / não o deixam falar com os conhecidos /
Entre vizinhos e colegas de turma na escola.
Quase tudo em seu redor era em miniatura / locomotivas e linhas de volta à infância /
Porque o carvão e os apitos são verdade. 
O olhar do menino era em ponto grande / e a sua dôr tinha o volume da sua idade /
Sete anos bem medidos no meu olhar.
Não era problema não o terem convidado / mas sim a proibição de se aproximar /
E de comunicar com as crianças da festa.  
Festa com pouco de muito recomendável / além de bolos de fábrica e sumos de pacote /
Bebés e mães com problemas hormonais.
Vejo no menino de Falconwood o meu olhar / quando na minha vida outros me disseram /
Que queres daqui? - como quem bate a porta. 
E ao bater a porta deixam do lado de fora / os sonhos de quem, como eu, só queria fazer /
Um breve recado sobre o tempo que passou.
Nos jornais, nas revistas e nas editoras / nos encontros e desencontros das letras e da vida /
Muitas vezes ouvi a pergunta - Que queres daqui?     
Foi esse desprezo, essa vaidade, esse rancor / que eu vi hoje no olhar triste do menino /
Nos comboios miniatura de Falconwood.
Lá tudo é miniatura desde o fumo ao apito / desde as várias linhas às passagens de nível/
Tudo  menos o olhar do menino afastado. 
                 
                                              JCF - poema autógrafo para Francisco José Viegas

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