Júlio, Desenho
Celebrar Júlio/Saul Dias – o pintor e o
poeta irmanados num percurso único – e fazê-lo no mês em que as galas do mundo
se abrem definitivamente nas flores que tanto amava, nos pássaros que cirandam
e no sol que vai crescendo pouco a pouco, parece-nos extremamente adequado. Foi
uma escolha da nossa admiração para o cantor das coisas íntimas e que se dizem
em surdina, para o colorista das tonalidades que palpitam numa parede de casa,
num campo ou numa face ou numa nesga de céu.
Poeta do pouco e do muito que há em roda de
tudo, ele fez esvoaçar corpos e sentidos, deu-nos o sinal do drama profundo e
da profunda alegria que reside nos seres e nas coisas e, também, aquela calma
aprazível que as pequenas povoações tão bem sabiam fruir, ou melhor – que nelas
se circunstanciava enquanto personagens dos seus poemas que visavam reconstruir
um tempo frutuoso e, por isso, possibilitar os reencontros entre os homens e o
universo.
Mediante o que escreveu e o que pintou,
disse-nos que ainda é possível uma
reintegração nos poderes mais altos da vida, que se pode prender a hora (as horas da existência completa) se tivermos olhos
para cheirar, ouvidos para saborear e nariz para sentir as maravilhas que nos
passam à volta, mesmo que o drama e o susto nos queiram macular os minutos.
Júlio/Saul Dias: poeta ainda e sempre, tanto do tão pouco que é saber ir pelas ruas do
quotidiano de tal maneira que este chega a abraçar
o horizonte largo e vário. Ou, dito de outra forma, que chega a fazer perdurar o suave frescor da aparição, de
todas as aparições que nos confirmam na nossa individualidade e humanidade
íntegras e já reconciliadas.
ns
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