segunda-feira, 22 de junho de 2020

Em louvor do poeta e do pintor


Júlio, Desenho


    Celebrar Júlio/Saul Dias – o pintor e o poeta irmanados num percurso único – e fazê-lo no mês em que as galas do mundo se abrem definitivamente nas flores que tanto amava, nos pássaros que cirandam e no sol que vai crescendo pouco a pouco, parece-nos extremamente adequado. Foi uma escolha da nossa admiração para o cantor das coisas íntimas e que se dizem em surdina, para o colorista das tonalidades que palpitam numa parede de casa, num campo ou numa face ou numa nesga de céu.
    Poeta do pouco e do muito que há em roda de tudo, ele fez esvoaçar corpos e sentidos, deu-nos o sinal do drama profundo e da profunda alegria que reside nos seres e nas coisas e, também, aquela calma aprazível que as pequenas povoações tão bem sabiam fruir, ou melhor – que nelas se circunstanciava enquanto personagens dos seus poemas que visavam reconstruir um tempo frutuoso e, por isso, possibilitar os reencontros entre os homens e o universo.
   Mediante o que escreveu e o que pintou, disse-nos que ainda é possível uma reintegração nos poderes mais altos da vida, que se pode prender a hora (as horas da existência completa) se tivermos olhos para cheirar, ouvidos para saborear e nariz para sentir as maravilhas que nos passam à volta, mesmo que o drama e o susto nos queiram macular os minutos.
   Júlio/Saul Dias: poeta ainda e sempre, tanto do tão pouco que é saber ir pelas ruas do quotidiano de tal maneira que este chega a abraçar o horizonte largo e vário. Ou, dito de outra forma, que chega a fazer perdurar o suave frescor da aparição, de todas as aparições que nos confirmam na nossa individualidade e humanidade íntegras e já reconciliadas.

                                                                                                                    ns

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