ns, Cartão para tapeçaria
Palavras
proferidas na inauguração da Exposição “Do zero ao infinito”
Nesta breve intervenção, depois de saudar
todos os funcionários desta Galeria e os visitantes que se dignam participar na
abertura da mostra, gostaria de começar por uma citação de um dos autores
nucleares do nosso tempo, Ernest Bloch. Disse ele que “Sem as ruas interiores do espírito não é possível transitar erguidos e
com dignidade pelas ruas exteriores do mundo”.
Já lá vai o tempo - embora os próceres que
tal defendiam ainda não tenham desaparecido de todo - em que se tentava
estabelecer a ideia errada de que um acto cultural não passava de um evento
mais ou menos dispensável ou, na melhor das hipóteses, uma espécie de vernissage
para acatitar momentos de ócio ou de propaganda.
Uma sociedade civilizada que assim se
comportasse dificilmente poderia usar esse nome. Na verdade, conforme referiu
Juan Ramón Jimenez numa carta a sua mulher Zenóbia, a cultura e a arte
defendem-nos da morte, bem como do opróbrio e da exaustão interior.
Vivemos neste momento sob os ecos da acção
que crismou este mês como um núcleo de incrementação da paz, isto a nível
mundial conforme até o secretário-geral da ONU deu notícia há pouco tempo
atrás.
Gostaria de assinalar, a este propósito,
que a arte autêntica, bem como a cultura autêntica (ou seja, as que não
dependem de humores, mais ou menos de desconfiar, dos chamados poderosos
do momento) são sempre propostas de paz – uma vez que a paz interior,
consubstanciada nos produtos do artista, se projecta na paz exterior. E
é por isso que a Paz, a grande paz dos povos como lhe chamou Sto.
Agostinho, não pode depender de violentos nem dos que propiciam arbitrariedades.
Parafraseando o filósofo Jean Guitton, a
vida plena, da qual a paz é o sinal mais relevante, não se constrói com gente
equívoca. Ou, como referiu tempo atrás Manuel Caldeira, a paz não se alcança com burlões, com
perseguidores que pelos tempos se serviram de manejos para violentarem
consciências através da mentira e da iniquidade.
Mas se a cultura e a arte propõem a paz,
igualmente propõem outros altos valores do espírito, duma forma autêntica e
descomprometida. E é por isso que os artistas conscientes dum ponto de vista
cultural e ético não podem pactuar com
défices democráticos que alguns ainda tentam estimular nos representantes
populares, com a censura, com a discriminação ou com quaisquer procedimentos
antidemocráticos e liberticidas, ainda que se disfarcem de humanistas.
Nesta medida, creio que fará fecundo sentido recordar que foram iniciadas, a
nível mundial, acções tendentes a fazer crescer, duma forma sustentada, o
civismo, a ética e a cidadania. Que se contrapõem aos tentames da simpes
propaganda tendenciosa, ideologicamente baseada em autoritarismos cínicos.
Porque é para esses valores,
consubstanciados nas tais ruas interiores
que se projectam no mundo exterior, que aponta a Arte autêntica e todos
aqueles que a executam.
Muito obrigado pela vossa
presença.
ns
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