quinta-feira, 18 de junho de 2020

3 poemas de Floriano Martins






1.

Sou eu: o nome, as letras
em que te arrastas, as perguntas que iniciam
a travessia de tua dor.

Noite inquieta sob escombros.
Delicado tambor das tormentas. Tua sombra vem vindo
ao ninho de minhas sílabas errantes.

Tua sombra erguida. Intimidade de cinzas
onde a dor o lábio toca. Formas ressurgidas do caos.
Prolongas teu ser em tudo o que me falta.

Noite submersa em tremores.
Esplendor de infernos devassados. Pousa tua mão
na esfera crepitante de meus sentidos.

Uma prova: o livro que conduz
ao templo. Missal de cinzas. Teu corpo soprado mil vezes,
a queimar mais e mais longe de ti.

2.

Sou eu: a morte, as ruínas
de tua história, lugar onde ninguém mais te escuta,
onde as pedras de fogo são polidas.

Tua sombra erguida, oculto fósforo
no desmaio dos sentidos. Os delicados jogos da morte.
Assim escavas sob os pilares do tempo.

A treva em ti atingirá
a fonte de outra queda. Tumulto que eleva
tua vida acima de toda ruína.

Noite cerimonial do abismo.
Tuas ruínas respiram em meu canto. Mil nomes segreda
o ar, ao cruzar as entradas invisíveis.

Aqui andei, entre as criaturas
dementes do mundo. Peregrino dentro de um quadro.
Escrituras folheando o vento.

3.

Sou eu: o livro, as vozes
de tua memória agitando os segredos do silêncio,
tuas carnes devoradas pelo tempo.

Ressurges em mim. Ávida sentença de meus
dias nas trevas. Alma inacabada a sorrir das formas
que engendro como portas ao absoluto.

Uma prova: as últimas chamas
evocadas. Braseiro confirmando a pele de teus dias,
a suportar as figuras do vazio.

Noite nascendo em outra noite.
Por trás das colunas circulares, o fogo abriga o livro
do invisível pranto de suas cinzas.

Aqui andei. Fomos um e todos.
Mascar o tempo é rito de alucinados. Os episódios
virão dar todos nesta escura sala.

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