terça-feira, 5 de maio de 2020

Um poema de Salvatore Quasimodo



Desenho de Fernando Aguiar


LAMENTO PELO SUL

A lua vermelha, o vento, a tua cor
de mulher do Norte, a vastidão de neve…
O meu coração está desde já sobre estes prados
sobre estas águas escurecidas pela névoa.
Esqueci o mar, a grave
concha soprada pelos pastores sicilianos,
a cantilena das carroças ao longo das estradas
onde a alfarrobeira estremece no fumo do restolho,
esqueci o voo dos airões e dos grous
no ar dos verdes planaltos
pelas terras e pelos rios da Lombardia.
Mas o homem clama por toda a parte a sina de ter
uma pátria.
Ninguém mais me conduzirá ao Sul.

Oh, o Sul está cansado de arrastar mortos
sobre as margens dos pântanos de malária,
está cansado de solidão, cansado de grilhetas,
está cansado na sua boca
das injúrias de todas as raças
que espalharam gritos de morte com o eco dos seus poços
que beberam o sangue do seu coração.
Por isso os seus filhos regressam aos montes,
constrangem os cavalos sob mantos de estrelas,
comem flores de acácia ao longo das pegadas
de novo vermelhas, ainda vermelhas, ainda vermelhas.
Ninguém mais me conduzirá ao Sul.
E esta noite carregada de Inverno
é ainda nossa, e aqui te repito
a minha absurda contradição
entre doçuras e furores,
um lamento de amor sem amor.

Tradução de Luís Serrano (poeta, tradutor e ensaísta)

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