terça-feira, 5 de maio de 2020

Do "Caderno de Notas" do Doutor Jagodes (2)



Pintura de Nicolau Saião

     Há bocado, na dita "Rádio Pública" - expressão de que se servem, conjecturo, para ocultarem aprumadamente que a propaganda que ela veicula está sim claramente ao serviço dos mandantes do regime e da sua ideologia impositiva - ouvi a pretexto da celebração da Língua Portuguesa uma senhora escritora, cujo nome não refiro por cavalheirismo e comiseração, epigrafar declamando o poema "Queixa das Almas Censuradas" e dando a par a canção, sobre ele feita, da autoria de um conhecido e apreciado ultra-esquerdista de viril, militante e vigorosa voz.
     Aqui só há um ligeiro quiproquo: o poema e a sua autora, Natália Correia, são - um, a negação mais intensa que houve no lirismo luso dos totalitarismos todos eles; dois, que a poetisa foi uma das figuras que mais se opôs, nos sinistros tempos do PREC, aos postulados que o cantor perfilhava.
    Como dizia Cesariny "falta por aqui uma grande razão". Ou, talvez, como dizia o grande vate epicurista Teodoro Rabejana, "uma grande falta de senso ou uma deliciosa inconsciência "...
    Ou um gentilìssimo descaramento...

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