quinta-feira, 7 de maio de 2020

Adequação, ou bio-ritmo, na vinda de férias



Pintura de Nicolau Saião


É o que se chama acertar.
Para trás ficou o tempo das férias
Do descanso e do calor, do pouco ou nada fazer junto ao mar
Lá nesses Algarves onde a malta gosta de se juntar…
E hoje, que o trabalho recomeça,
Invenções ou quase lérias parecem tais descrições…
Um nevoeiro irritante e miudinho
É matinal companhia no trânsito da auto-estrada.

Não se pode dizer que esteja frio.
O facto é que mais aconchegado anda-se melhor:
Uma camisola interior, um fatinho inteiro
Caem bem, marcam talvez a transição
Entre o tempo que foi e o novo ritmo que aí vem:
Hoje tudo recomeça e assim sendo a adequação menos dói.

Acalmado quase o dentro e o fora, em paz consigo mesmo
Já que o tempo exterior inveja lhe não faz,
Um homem marcha alegre para o destino que é o seu.
Correram-lhe bem as coisas, é um facto.
Acertou e gozou o tempo das suas férias
E agora à rotina volta, mais sensível e com tacto.

Pergunta pelo que se passou, o tempo que fez
Mas é pura simpatia, mera delicadeza quase.
Interessa-lhe lá bem!
Ele estava no que era bom e só isso lhe importava.
Vá lá,
Aceitava que a terra girava porque tinha de ser,
Seria uma cedência à lógica se nisso pensasse;
Mas ele fazia como que um intervalo,
Como quem a dormir não envelhece
E do que pouco importa naturalmente se esquece.

Agora tudo está bem,
No seu tempo e local e é mesmo certo.
Este matinal nevoeiro
É uma preciosa ajuda
Ao ininterrupto trabalho de tanto bombeiro
Diz-se…
Ele acha bem. Para si mesmo sorri,
Encolhe os ombros
Por uma vez acertou
- Feliz como um menino ao sair do banheiro.

( Onde terá lido essa expressão
Agora tanto lhe aquecendo o coração?! ).

Cristino Cortes

(Poeta, tradutor, ensaísta e memorialista)

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