segunda-feira, 11 de maio de 2020

Um poema de Maria Estela Guedes





SAUDADE

Esta saudade que nos chega
Melancolia difusa
Como se tivéssemos sido divindades
Crianças num parque natural
A soprar bolas de sabão
E a saltar de ramo em ramo
Com araras e macacos.

Como se tivéssemos sido ledos bichos
Num Paraíso terrenal
Locus amoenus anterior
À primeira glaciação
A nostalgia
De uma pátria que já nos deixou
Em que éramos gigantes
Fortes e belas e indestrutíveis
Lascas do
Diamante.

Esta saudade
Do que sonhámos para nós
E cuja realização esperamos
Para além dos tempos e do fracasso
E muito para além
Da desilusão.

Esta saudade
Só o desejo a legitima
E para o futuro transporta
Flávia visão
Linda serpente.
Ah, tal como na aurora dos tempos
No fim deles
O Paraíso espera-nos.

in Clitóris Clítoris, Edit. Urutau, Pontevedra/São Paulo, 2019

(Poeta, dramaturga, tradutora e ensaísta. Directora do TRIPLOV)

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