Uma furtiva lágrima…
EVOCAÇÃO
Foste a palavra és a palavra
Mas para lá da palavra está a
silhueta
a figura completa e incompleta
além das velhas salas da casa do jardim
A voz de inverno de verão
a voz nas manhãs de outono quando
um vento súbito bulia
nas ramagens maiores que o meu desconhecimento
A tua mão no meu ombro uma inquietude
pelo menino pequeno tão deserto tão vago
a criança primordial dispersa pelos
anos
talvez como um soluço
E era tão frio o corredor naqueles
anos
- a luz que chegava vinha nas tuas
mãos -
A tua figura um pouco enevoada como a lembro
Mais tarde percorrendo os muitos
domingos a vir
Fazias bolos rias
choravas
um dia te vi chorar com as mãos
entrelaçadas
por um desgosto qualquer uma morte na família
Um dia te vi cosendo serenamente no
clarão da janela
Mãe
onde estão onde estão os caminhos
de outrora
o Pai os parentes
a cabrinha branca
o teu lampejo fortuito de um
momento de amargura
Idos como flocos de neve num horizonte cerrado
O teu vestido que nas feiras te
dava luzimento
e o pão que barravas cuidadosamente
como um trabalho árduo
erguendo o natural de um momento
Na noite de ruídos recordo o teu olhar
longínquo como porta que se fecha
sem parar
próximo como uma toada um afago
um sereno minuto.
ns
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