domingo, 3 de maio de 2020

No Dia da Mãe



                                 Uma furtiva lágrima…

EVOCAÇÃO

Foste a palavra   és a palavra
Mas para lá da palavra está a silhueta
a figura completa e incompleta
além das velhas salas da casa   do jardim
A voz de inverno  de verão
a voz nas manhãs de outono quando um vento súbito bulia
nas ramagens   maiores que o meu desconhecimento
A tua mão no meu ombro   uma inquietude
pelo menino pequeno   tão deserto tão vago
a criança primordial dispersa pelos anos
talvez como um soluço
E era tão frio o corredor naqueles anos
- a luz que chegava vinha nas tuas mãos -
A tua figura um pouco enevoada   como a lembro
Mais tarde percorrendo os muitos domingos a vir
Fazias bolos   rias   choravas
um dia te vi chorar com as mãos entrelaçadas
por um desgosto qualquer   uma morte na família
Um dia te vi cosendo serenamente no clarão da janela
Mãe
onde estão onde estão os caminhos de outrora
o Pai   os parentes   a cabrinha branca
o teu lampejo fortuito de um momento de amargura
Idos   como flocos de neve num horizonte cerrado
O teu vestido que nas feiras te dava luzimento
e o pão que barravas cuidadosamente como um trabalho árduo
erguendo o natural de um momento
Na noite de ruídos   recordo o teu olhar
longínquo como porta que se fecha sem parar

próximo como uma toada   um afago   um sereno minuto.

                                                                         ns

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