domingo, 3 de maio de 2020

De Aurélio Porto, o que nos enviou


Evocando a morte de minha mãe

Ao sopro voltas, ao sopro tua mãe onde nasceu
tudo quanto há e o que respira. O que atravessa,
esse ar que são pulmões ou seja sangue, o meu,
o teu, o que, a cada golpe, bate e recomeça.

A tua mãe o sopro. Pois foi dela que surgiu o teu,
o teu sopro, a tua carne, que em ti pôs a promessa.
Ela viveu, sim, ela viveu, tu viste que morreu,
mas em ti vive ainda, e o sopro, e em ti reza.

A mãe. O sopro. O sangue que em ti surgiu
e dela recebeste, e o silêncio do amor calado,
e o sempre sopro soprado, o hálito renovado.

Memória? Tudo esquece, tudo morre, sepultado.
Eternidade? Ela é momento, instante, obliterado
tudo. Mas o sopro, tua mãe, revive, que te redimiu.

Quérquira, 23.05.05

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