quinta-feira, 28 de maio de 2020

Dois poemas de Maria Azenha






Século vinte e um

(Ouvem-se passos de ferro
correndo pela terra inteira.)

Há uma parede branca com um poema esmagado
dentro do peito.
É filho da neve e do Castelo do Medo
– um homem abandonado à sua sede –
cujo cadáver clama por ele.
Vive e chora no Labirinto de Dédalo.
Urina sem piedade
nas mãos de Deus.
*

Três retratos para Fassbinder
I
Nestas cidades desertas há rosas de neve
onde não passa ninguém.
II
A criança está amarrada a uma ave cega
e o seu coração sangra de um espelho
para dentro da luz.
III
O Cavaleiro escarlate
solta a poeira do espelho
num cavalo preso
a duas árvores sempre quietas
Entra pela primeira vez dentro
da morte.

in A casa de ler no escuro , Edit. Urutau, Pontevedra/São Paulo, 2016

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