“Non,
ou a vã glória de” negar!
“Só a negar-te eu pudesse
combater o terror de te ver
em toda a parte)”
Miguel Torga
Sob
a ínfima aragem que sempre subsiste
no
breve e cravado aroma das sujas manhãs,
sobejaria
a palavra sem o caudal da poesia?
Não!
Atenas está a arder como pura nascente!
*
Neste
húmus sem nome ou voz explícita,
ó
transparente e crua formulação do mundo,
só,
na obliterada chaga poética, resistirás?
Não!
Os bárbaros já cá estão deleitando-se!
*
No
sangue vivo que de Deus recebe, Babel,
nós
somos o nosso próprio verso que excede,
se
lhe formos puros e fiéis ele nos sobreviverá?
Não!
O poeta é um falso profeta de passagem!
*
Ressuscitará
a alegria do mundo apenas no azul
e
o poema que indaga a consciência do osso
que
se confunde com um vírus e nosso corpo?
Não!
A cruz está obsoleta e ociosa na paisagem!
*
Todos
os eleitos têm o seu poema na fronteira
de
Tebas e dos seus verídicos cem pecados,
um
corpo na lasca que se crava na fala intransitiva?
Não!
A gramática foi ofertada pelo homem a Deus!
João Rasteiro
Maio de 2020
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