terça-feira, 11 de abril de 2023

José do Carmo Francisco, Postal nº 2 para Ana Isabel


Lisboa, 18 de Março de 2023


O teu primeiro nome tem, dentro do seu som, a força da Terra e a graça de Deus. Sem dúvida ele é o nome feminino mais divulgado em todo o Ocidente. Terá a sua origem nas profundezas da língua hebraica mas não fica apenas na Bíblia nem nos Quatro Evangelhos. Está presente na Eneida de Virgílio, nos romances de Tolstoi, no teatro de Luigi Pirandello, nos contos de Pushkin e nas óperas de Mozart. Ficou junto à Terra e o som das suas sílabas pronunciadas muito devagar resolve todas as hesitações nas encruzilhadas sombrias dos caminhos quotidianos. Digo o teu primeiro nome e tenho de imediato, no momento de o dizer, uma direcção e um sentido. Porque existe no som dessa palavra a força da Terra e a graça de Deus. O teu segundo nome tem a mesma origem (o hebraico) e significa pureza, castidade ou cristalina. Como a água. Talvez por isso, o teu olhar amplia e divide a paisagem povoada da cidade em luz e sombra, frio e calor, beijos e lágrimas, vida e morte. Com esse teu segundo nome uma rainha em Portugal separou em paz as hostes do rei (seu marido) e do príncipe herdeiro (seu filho), transformou depois no seu regaço dinheiro em rosas e levou mais tarde um mendigo a dormir nos aposentos reais. Entretanto, para espanto do rei, descobriu-se que o pobre era afinal o redentor do Mundo. Há no teu segundo nome a força das bandeiras e dos pendões, o rumor dos tambores e dos clarins que convocam os exércitos sentimentais – o mesmo é dizer os batalhões, as companhias e os pelotões com os seus oficiais, sargentos e praças. Neste caso não interessam nem a graduação, nem a antiguidade nem o turno da incorporação. É tudo do contingente geral.      


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