Balão Minguante
Três décadas.
Trinta por cento destruímos
de tudo quanto vive.
Valeu a pena. Temos roupa em abundância
em marcas de prestígio,
estradas confortáveis e rápidas que nos
levam
de um asfalto a outro asfalto,
queimamos a pele e o melanoma nas melhores
praias,
nos melhores hotéis.
O mundo ainda belo que algures resta não
nos escapa.
A ele acedemos voando pelos ares a baixo
preço
e isentamos o querosene de obrigações
para que os mais recuados risortes possam
criar valor,
matar a fome de dividendos
enquanto alhures se aprofunda a fome de
grão e de pão.
Neste melhor dos mundos,
a vida diversa vai encolhendo,
balão furado pela imprevidente agulha
que o encarquilha.
O balão onde voamos de um nada a outro
nada,
deixando na esteira, repletos, os centros
onde tudo se compra
sob o néon resplandecente.
in “Safra do Regresso”
Sem comentários:
Enviar um comentário