Morte dos amigos
Morrem
simplesmente
ou
adoecem e morrem da doença
ou
adoecem, recuperam e morrem de outra coisa
ou
adoecem, parecem recuperar
e
morrem da mesma coisa,
com
a doença a voltar
para
mais uma dentada em nós
na
floresta das nossas últimas horas.
E
há outras formas
que
não serão consideradas aqui.
Ao
fim do dia, eu fechava os olhos
à
beira da água e fingia
que
seria assim
ou
não seria,
era
para ali que os meus amigos continuavam a ir,
um
“lugar” apenas entre aspas
onde,
em vez de oxigénio, há silêncio
que
o latido de uma raposa no inverno ou a queixa
de
uma chaleira deixada sozinha não quebra.
De
olhos ainda fechados,
corria
no escuro para aquele silêncio,
como
um homem na plataforma de uma estação de comboios
e,
quando os abria para ver
quem
corria na outra direcção
de
braços abertos,
lá
estava o lago de novo com a sua ondulação,
uma
brisa a soltar-se da água,
um
apito fraco de comboio
e
eu a tremer
sob
as árvores, nuvens a passar
e
tudo o mais que se derramava
sobre as comportas poderosas dos sentidos.
Tradução
de Francisco Craveiro de Carvalho
Da antologia “A garça impassível” -
dada a lume por José Carlos Costa Marques na sua editora “Sempre em Pé” –
integralmente composta por traduções de F.C. de Carvalho.
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