terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Um poema de Billy Collins


 Morte dos amigos

 

Morrem simplesmente

ou adoecem e morrem da doença

ou adoecem, recuperam e morrem de outra coisa

ou adoecem, parecem recuperar

e morrem da mesma coisa,

com a doença a voltar

para mais uma dentada em nós

na floresta das nossas últimas horas.

 

E há outras formas

que não serão consideradas aqui.

Ao fim do dia, eu fechava os olhos

à beira da água e fingia

que seria assim

ou não seria,

era para ali que os meus amigos continuavam a ir,

um “lugar” apenas entre aspas

 

onde, em vez de oxigénio, há silêncio

que o latido de uma raposa no inverno ou a queixa

de uma chaleira deixada sozinha não quebra.

De olhos ainda fechados,

corria no escuro para aquele silêncio,

como um homem na plataforma de uma estação de comboios

e, quando os abria para  ver

quem corria na outra direcção

 

de braços abertos,

lá estava o lago de novo com a sua ondulação,

uma brisa a soltar-se da água,

 

um apito fraco de comboio

e eu a tremer

sob as árvores, nuvens a passar

e tudo o mais que se derramava

sobre as comportas poderosas dos sentidos.

 

Tradução de Francisco Craveiro de Carvalho

 

Da antologia “A garça impassível” - dada a lume por José Carlos Costa Marques na sua editora “Sempre em Pé” – integralmente composta por traduções de F.C. de Carvalho.


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