terça-feira, 4 de outubro de 2022

Três poemas de Amalia Bautista

 


(Madrid, 1962)



Cantar das espigas

 

Não cantam, isso são histórias

das pessoas que nunca trabalharam no campo.

Mentiras piedosas com verniz lamechas

que os artistas e os pirosos inventam,

se é que são diferentes.

O que as espigas fazem

 são cortes nas mãos,

 mas sobre as feridas que sangram

 nada se ouve.

 

 

 Despertar

 

Desperta-me mais o som da campainha

do que o café que estou a tomar.

 E um homem de entregas, um mensageiro

 que traz numa caixa

 uma pequena porção de alegria.

É a tua prenda de anos. 

Quando ta der, da tua alegria

 retirarei a minha.

 

 

 Ausente

 

 Essa mulher com que sonhas às vezes

 é a mulher que eu fui:

 Desejável e alegre,

 animada, jovem.

 Que lhe terá acontecido?

Quem ou o que a matou?

Há quantos anos choramos a sua ausência?

                     

Tradução de Francisco Craveiro de Carvalho


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