Poema periférico do meu operador
Um
vago primo que nasceu em Salvaterra
Brilhou
na baliza nos Jogos de Amsterdão
Sereno
com seu coração em pé de guerra
Ele
voava no ar com a leveza de um balão.
Chegava sempre aos dois cantos da
baliza
Quando olhava para o campo tudo media
Com os seus olhos na medida mais
precisa
Separando devagar a amargura e a
alegria.
Todas
as derrotas e as vitórias acumuladas
São
quase calendário privativo do jogador
Que
joga parte da sua vida nas bancadas
Na
multidão que o aplaude num clamor.
As mãos desse vago primo tinham magia
Que foi depois herdada pelo meu
operador
Mãos tão precisas num ritual de
cirurgia
Que assim vai separando a morte do
amor.
Poema periférico para a Farmácia
Não
é comum este nosso lugar-comum
De
espaço no balcão ponto de encontro
Onde
se recebe apenas só o que se dá.
Às vezes entram cheiros de roupa
lavada
De pedras, sabão e vozes de mulheres
Na ribeira que um dia por aqui
passou.
Sabemos
o princípio activo das lágrimas
E
o excipiente da moderna amargura
Temos
literatura explicativa das dores.
Só vendemos tudo com receita médica
E mantemos fora do alcance das
crianças
No comércio onde há algo mais que
troca.
A
transacção foi concluída com angústia
Fica
um espaço de tristeza no balcão
Entre
o «adeus» e o final «bem-haja!».
in “Poemas periféricos”
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