Outros Quartos
Mais tarde, tudo o que ele conseguia lembrar com clareza
Era o barulho feito pela chuva, salpicando
Os papéis que envolviam as flores
Que alguém estivera a dispor em volta da sepultura.
Afastou-se da janela. Quando as pessoas estão
Sempre à janela tendem a ser esquecidas.
E mexeu numa almofada, mas sem se sentar.
Ter partido, uma pessoa precisa de ter sido,
Ser alguém a quem aconteceu uma vez alguma coisa.
Pensou em fazer talvez um pouco de chá. Quando
não há amor que chegue perto de nós,
Devem ser os mortos a passar sem ele.
Um outro quarto, outra fronteira. Haveria
Outras: escadas e portas. Ele conseguia
recordar o conhecimento carinhoso dos seus corpos.
Estas eram as luvas dela. Havia alguma coisa parecida,
Pensou ele, com a imortalidade na sua saudade.
Noutro lugar estariam os sapatos, e outras coisas.
Em Samos: Uma Pergunta
“E tu, meu filho, de que madeira és feito?”
Não era uma pergunta. Podia ver isso.
Era um Beneditino e muito atraído
Pela minha bengala: a sua elegância,
Em ébano, o punho macio em cabeça de cão
Virada para trás: olhar triste e um toque
Lúgubre na linha do seu queixo.
Comprara-a no Grand Bazaar
Em Istambul, tinha sido atraído
E fora enganado por ela também. Só
Ao chegar a casa me apercebi
De que, de facto, era apenas bambu lacado.
Mas andara mais de trezentas milhas com ela
Em três semanas e o monge estava impressionado.
Não, não era uma pergunta. Sabia isso.
Mesmo assim preferia que ele não tivesse perguntado.
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