POEMA
Eu nasci nos confins de um império indescritível
cercado por linhas imaginárias e fugidias.
Desde criança queria conhecer o coração da região,
ir para o seu norte, que também era o seu centro.
Depois de muitos anos sonhando com caminhos
resigno-me a saber que não parti.
Esta manhã um homem na minha frente fala com os
pássaros.
Ele ensina-os como chegar ao palácio de jade.
Eu escuto-o pensando no norte,
no meio,
no meu antigo desejo.
Mas já estou cansado e os dias pesam-me.
Terei de me contentar com aprender essa linguagem das aves
E, sozinho no meu quarto, esvoaçar sobre os lençóis.
SÃO LOURENÇO
É incrível como o que estava rígido pode ser
outra vez florescente,
como as mesmas árvores frondosas que nos surpreenderam
em agosto passado]
com as suas plumagens de flamingo real
como uma deslumbrante Marilyn
de luvas compridas e vestido cor-de-rosa
mas que depois nos desiludiram
secas e engelhadas
violácias como as patas de um galo velho
por vários meses,
como podem elas tirar de si mesmas
do seu coração exausto de raiz
nova plumagem, novas luvas, novas cores
e fazerem-nos brevemente felizes
outro agosto
ou vinte e três agostos depois
com as suas flores deslumbrantes e misericordiosas,
capazes de lavar todo o mal do mundo.
in “Multiplicación del sol”
(Trad. de nicolau saião)
Sem comentários:
Enviar um comentário