terça-feira, 17 de maio de 2022

Dois poemas de Gabriel Chávez Casazola (Bolívia)

 




POEMA


Eu nasci nos confins de um império indescritível

cercado por linhas imaginárias e fugidias.

 

Desde criança queria conhecer o coração da região,

ir para o seu norte, que também era o seu centro.

 

Depois de muitos anos sonhando com caminhos

resigno-me a saber que não parti.

 

Esta manhã um homem na minha frente fala com os pássaros.

Ele ensina-os como chegar ao palácio de jade.

 

Eu escuto-o pensando no norte,

no meio,

no meu antigo desejo.

 

Mas já estou cansado e os dias pesam-me.

 

Terei de me contentar com aprender essa linguagem das aves

E, sozinho no meu quarto, esvoaçar sobre os lençóis.

 


SÃO LOURENÇO

 

É incrível como o que estava rígido pode ser

outra vez florescente,

como as mesmas árvores frondosas que nos surpreenderam em agosto passado]

com as suas plumagens de flamingo real

como uma deslumbrante Marilyn

de luvas compridas e vestido cor-de-rosa

mas que depois nos desiludiram

secas e engelhadas

violácias como as patas de um galo velho

por vários meses,

como podem elas tirar de si mesmas

do seu coração exausto de raiz

nova plumagem, novas luvas, novas cores

e fazerem-nos brevemente felizes

outro agosto

ou vinte e três agostos depois

com as suas flores deslumbrantes e misericordiosas,

capazes de lavar todo o mal do mundo.

 

in “Multiplicación del sol”

 

(Trad. de nicolau saião)


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