"Se eles têm razão porque é que mentem?" perguntou
a dada altura, na carta aberta que dirigiu a Salazar, o bispo de Portalegre, e
depois do Porto, D. António Ferreira Gomes.
A resposta do ditador luso foi mandá-lo para o exílio.
Nestes últimos dias, ante o cenário de horror que os órgãos de
informação de todo o mundo civilizado têm divulgado, perpetrados nas vilas e
cidades que os invasores russos vão abandonando, a camarilha (nacional e
estrangeira) que dá respaldo e compreensão ao criminoso Putin desdobra-se em
mentiras, embustes e falsas explicações.
E, numa narrativa igualzinha no seu íntimo à dos bandidos
políticos Hitler e Stalin, dementados pelo seu ódio à Democracia, pervertidos
pelo seu fanatismo que chegam a tentar fazer passar por visão cristã, buscam
branquear os cleptocratas e totalitários que hoje martirizam a Ucrânia como
martirizariam qualquer outro povo se isso interessasse aos seus desígnios
perversos.
São os que clamam contra os que justamente se indignam e exautoram
o ditador eslavo, pretextando a liberdade de expressão, "esquecendo"
que a liberdade de expressão, sendo uma conquista da democracia, existe
para que se possa combater a perfídia e a mentira e não para a incrementar.
São os que dizem que se os dirigentes
ucranianos não queriam que o seu povo morresse, tivessem-se rendido
ante as exigências russas. Iguaizinhos, no seu linguajar cínico, aos
que nos tempos da segunda guerra mundial diziam que se os invadidos e atacados
por Hitler não quisessem morrer, se rendessem ante o senhor de
Auschwitz e Buchenwald.
São estes/as cínicos/as e testemunhas falsas que também tem
as mãos manchadas do sangue inocente e desvalido de homens,
mulheres e crianças que todos pudemos ver caídos tristemente nas ruas de Bucha,
Mariupol e tantas outras!
Agora que tiraram a máscara da hipocrisia, desvelando-se descaradamente, não os esqueceremos. Nem perdoaremos o seu jeito sicofanta. Devemos isso aos martirizados que, com o vosso cinismo, enxovalhastes para sempre sem piedade.
ns
Um democrata não pode ser um assassino. O
contrário constituiria uma contradição nos termos. Do mesmo modo, um democrata
não pode ser um ditador, já que a violência, física ou psicológica sobre
outrem, no intuito de lhe coagir, amputar ou anular o eu na acção ou no
pensamento, significa negar-lhe a liberdade.
Do que se conclui facilmente ainda que um
mentiroso que mente para proveito próprio em detrimento do dos outros também o
não é, já que a mentira se apresenta, nesse caso, como a expressão da violência
associada ao seu apetite pelo poder, inclusive quando mente em favor do poder
alheio. Ditadura e mentira são indissociáveis, mesmo quando um ditador utiliza a
verdade para melhor mentir, já lá dizia o Aleixo, na sua profunda ratice
popular.
O ditador, o não-democrata revela-se, afinal,
em tudo isto, como um incompetente na sua capacidade de lidar com o que não for
ele mesmo, amarrado à solidão de uma vontade animalesca que não ultrapassa o instinto
de sobrevivência básico, por mais informado e culto que seja o fato domingueiro ou de ir-à-missa (o de desportista incluído) com que se apresente. Ditadores, aspirantes a ditadores, ditadorzecos e
mentirosos são, pois, gente incompetente em sair da sua casca, mas perigosa e
mortalmente – pelo menos para o espírito de quem se lhes depara – “saídos da
casca”.
Da juventude, ficou-me para a vida uma frase
da personagem da “Fundação”, de Isaac Asimov, Lord Darwin: “A violência é o
refúgio dos incompetentes”.
Joaquim Simões
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