terça-feira, 5 de abril de 2022

Impossível o silêncio, intolerável a mentira, execrável o cinismo!

 



"Se eles têm razão porque é que mentem?" perguntou a dada altura, na carta aberta que dirigiu a Salazar, o bispo de Portalegre, e depois do Porto, D. António Ferreira Gomes.

 

  A resposta do ditador luso foi mandá-lo para o exílio.

 

  Nestes últimos dias, ante o cenário de horror que os órgãos de informação de todo o mundo civilizado têm divulgado, perpetrados nas vilas e cidades que os invasores russos vão abandonando, a camarilha (nacional e estrangeira) que dá respaldo e compreensão ao criminoso Putin desdobra-se em mentiras, embustes e falsas explicações.

 

   E, numa narrativa igualzinha no seu íntimo à dos bandidos políticos Hitler e Stalin, dementados pelo seu ódio à Democracia, pervertidos pelo seu fanatismo que chegam a tentar fazer passar por visão cristã, buscam branquear os cleptocratas e totalitários que hoje martirizam a Ucrânia como martirizariam qualquer outro povo se isso interessasse aos seus desígnios perversos.

 

   São os que clamam contra os que justamente se indignam e exautoram o ditador eslavo, pretextando a liberdade de expressão, "esquecendo" que a liberdade de expressão, sendo uma conquista da democraciaexiste para que se possa combater a perfídia e a mentira e não para a incrementar.

 

   São os que dizem que se os dirigentes ucranianos não queriam que o seu povo morresse, tivessem-se rendido ante as exigências russas. Iguaizinhos, no seu linguajar cínico, aos que nos tempos da segunda guerra mundial diziam que se os invadidos e atacados por Hitler não quisessem morrer, se rendessem ante o senhor de Auschwitz e Buchenwald.

 

    São estes/as cínicos/as e testemunhas falsas que também tem as mãos manchadas do sangue inocente e desvalido de homens, mulheres e crianças que todos pudemos ver caídos tristemente nas ruas de Bucha, Mariupol e tantas outras!

 

     Agora que tiraram a máscara da hipocrisia, desvelando-se descaradamente, não os esqueceremos. Nem perdoaremos o seu jeito sicofanta. Devemos isso aos martirizados que, com o vosso cinismo, enxovalhastes para sempre sem piedade.

ns

 

   Um democrata não pode ser um assassino. O contrário constituiria uma contradição nos termos. Do mesmo modo, um democrata não pode ser um ditador, já que a violência, física ou psicológica sobre outrem, no intuito de lhe coagir, amputar ou anular o eu na acção ou no pensamento, significa negar-lhe a liberdade.

   Do que se conclui facilmente ainda que um mentiroso que mente para proveito próprio em detrimento do dos outros também o não é, já que a mentira se apresenta, nesse caso, como a expressão da violência associada ao seu apetite pelo poder, inclusive quando mente em favor do poder alheio. Ditadura e mentira são indissociáveis, mesmo quando um ditador utiliza a verdade para melhor mentir, já lá dizia o Aleixo, na sua profunda ratice popular.

   O ditador, o não-democrata revela-se, afinal, em tudo isto, como um incompetente na sua capacidade de lidar com o que não for ele mesmo, amarrado à solidão de uma vontade animalesca que não ultrapassa o instinto de sobrevivência básico, por mais informado e culto que seja o fato domingueiro ou de ir-à-missa (o de desportista incluído) com que se apresente. Ditadores, aspirantes a ditadores, ditadorzecos e mentirosos são, pois, gente incompetente em sair da sua casca, mas perigosa e mortalmente – pelo menos para o espírito de quem se lhes depara – “saídos da casca”.

   Da juventude, ficou-me para a vida uma frase da personagem da “Fundação”, de Isaac Asimov, Lord Darwin: “A violência é o refúgio dos incompetentes”.

Joaquim Simões



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