quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Uma crónica de José do Carmo Francisco

 

José Régio - «Mas sei que não vou por aí»


Em Fevereiro de 1970 a Revista Colóquio da Fundação Calouste Gulbenkian dedicou um espaço à memória de José Régio (1901-1969) e responderam à chamada Augusto de Castro, Branquinho da Fonseca, Matilde Rosa Araújo, Moreira das Neves, Natércia Freire e Maria Aliete Galhoz. Com a devida vénia passo a citar o texto do jornalista Augusto de Castro: «Régio teria sido, se tivesse nascido vinte ou trinta anos mais cedo, um revolucionário. Assim, nascido na época em que nasceu, ficou um inconformista para uma geração – e, pelo seu relativo isolacionismo («criar desumanidade, não acompanhar ninguém» disse ele de si próprio nos Poemas de Deus e do Diabo) um incompreendido para a outra. Daí o afastamento para uns, a hostilidade para outros. Ficou entre duas gerações e isso não é uma posição favorável em Literatura. Tinha autêntico génio lírico e foi um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos. E é a altura da sua obra que, morto, o há-de colocar na linha intemporal do seu espírito que é superior às flutuações incondicionais duns, à agressividade doutros. Ele sentia talvez isso, o que aumentava a insociabilidade que foi, mais do que o complexo desse grande afectivo que, pelos recônditos excessos da sua sensibilidade, se retraiu. Chamaram-lhe provinciano. Não o foi. Foi apenas um tímido e essa timidez constituiu o segredo da sua solidão subjectiva que o fez o Poeta das penumbras, um grande criador das luminosas sombras, o homem que retinha os soluços e não exteriorizava as alegrias e que seguiu sempre na vida e na Arte, as sendas tranquilas e apagadas das convivências onde a sua voz se isolava.» (fim de citação)


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