Ben Wilson
Maria Madalena
Parou tal como pararam
ao mesmo tempo todos os relógios.
O instante teve esse sopro cortado.
Jesus fixou os olhos nos seus
uma marcação que nunca falha. 
Maria
                                       
Vinda pela porta do fundo
sentiu hesitar a multidão.
Frestas se abriram
entrou um luar
tímido
tudo cobrindo por fim
inevitável. 
 Em tantos lugares 
A Hyane Bardiau
 
De todas estas manhãs desaparecidas
lembra-te
dos primeiros gritos
dos últimos sonhos
uma indefinível ideia
da água
das pedras
e das pegadas
em tantos lugares
arrancando as máscaras
ou talvez as dores.
 Pelo menos 
A Stella
Leonardos
A Duse poderia estar lá
enquanto rapidamente reapareceria
a Primavera que já não se esperava
nas janelas enamoradas
onde tantas beldades adormecidas
vão finalmente acordar.
O que sabemos verdadeiramente?
Quem serão elas afinal?
Pelo menos a paisagem
terá retomado os seus tentilhões
a beleza a sua virtude
e o horizonte o seu encanto. 
Com as caravanas… 
                                             
Os ossos da existência
- oh meu amigo -
deixámo-los perder-se 
nas fronteiras de um deserto
de violências e de agonias.
As máscaras caíram
daqui para a frente
o passado retomará o seu lugar
tal como as caravanas
avançando pelo meio das dunas…
À espera 
Para Simone e Jean-Claude Coiffard
Um silêncio faz o seu caminho
por entre os ventos da história;
as suas sombras são pacientes
apesar das voltas da sorte 
cegando a noite.
Parece que qualquer um
em qualquer lugar faz as suas contas
à espera da última palavra.
À espera.
Rengaine
                                             
Faz os seus cálculos
evitando os parênteses.
O velho relógio escoa
enfim as horas vazias
ou outras sem rosto.
No seu jardim secreto
algumas ortigas teimam
em acariciar o ponto sensível.
À sua volta pessoas
que ele teria preferido não conhecer.
Tradução de Cristino Cortes

Sem comentários:
Enviar um comentário