segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Três poemas de Luís Serrano

 


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SE O OIRO CESSA


Se o oiro cessa

sobre as folhas

agora que os violinos

morrem

tão lentamente

sobre as árvores

 

se as águas perduram

ou escrevem sobre a terra

a pequena morte

de um nome

de uma flor esquecida

entre os lábios

 

é que o inverno

está próximo

 

próximo

esse rasto infindável

de lanternas acesas

sobre a neve



A TRUTA


Por espessas capas
de cinza e névoa
sobe a truta

bicho
de águas soltas
que a pedra filtra

sobre os flancos

sobre os alcantis
de Roncesvals

De Rolando
restam os sinos da memória

um tapete de neve
e urze
entre abetos

se as teclas do piano
se ouvem ainda
sob a luz coada
do regresso

se a mão de Schubert
procura apenas
um sinal do céu

nesta atmosfera depurada
onde perpassam
ovelhas

atentos os cães
se o redil está longe

e os chocalhos
se perdem no ar

nas dobras involuntárias
da água
e da escrita


 

LORIGA OU A SERRA REVISITADA


Socalcos
onde a terra estremece
em neve e solidão

pastores hibernam
dissolvem-se num silêncio
de águas mansas

ou entram pelo tempo
carregados de coalho
e odores antigos
com seus cães desatados
suas flautas

casas enlouquecem
devoradas pela brancura
e pelo frio

o equilíbrio penso
está nestas árvores
repartidas entre as colinas
e a memória ácida
dos glaciares.


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