segunda-feira, 19 de julho de 2021

Três poemas de C. Ronald

 


Alfonso Bonifacio



EIS A PORTA QUE RANGE COM AQUELE QUE ENTRA

 

Eis a porta que range com aquele que entra:

domínio da incerteza para mais de um corpo

e o silêncio desfeito. A terra depois disto

e o tamanho inexato daquele que a tenta

 

como parente estranho que nem era homem

entregue ao acaso com a visão atiçada

no acúmulo de cartas quando pesa o nada

na permanência inútil e no lugar dos nomes.

 

Mãos em coisas pequenas só alargam a morte

no que consomem do outro. Mas o verbo firma-se

em cada grito de antes sendo ainda mais forte.

 

Ai, meus Senhores, funde-se o pressentimento.

Não sois nada, nem há folha fora dessa bíblia

que não seja virada e lida cada noite...

 

(in Gemônias, 1982)

 


O GAROTO STRAVINSKY

 

Lendo Carl Spitteler numa primavera horrível.

Não é possível ser grande

com tamanha tagarelice.

Stravinsky (o certo) descobriu isso

despindo-se (noutra). Passa a língua nas notas.

Dia maravilhoso nesse bar de praia e dizer:

“estou em falta contigo, a tragédia

não tem nada a haver com a sujeira que

deixa". Uma volta nos arrabaldes (lavam as

máquinas matricidas) póstumos entre colunas

gregas. Ah, nunca, antes

de estremecer no horário o ano vindouro com

novela numa TV idiota.

E parturientes de acéfalos

já desligados da casca. Ora!

Igor sustenta nosso futuro. Por aqui, tudo bem. Então discutem sem

definição alguma, encolhidos na alcova. Especialistas de

cemitério tampouco vi. Claro, somente coveiros,

mas estes nunca levaram a sério uma cova

e tampouco a própria.

 

(in Como Pesa!, 1993)

 


MARIANA


Como vens, menina, p’ra frente da câmara

tramando nessa foto toda a beleza ainda sem história?

O avô é diariamente algo que acontece e manuseia o céu

para colher ideias e entre todas

o murmúrio múltiplo da grandeza que adiantas.

 

Foste imprevista como é a natureza.

Só a perfeição tira o ser do nada, a alegria separa

os lábios para dizer que a vida cresce.

 

Imagens engatinham juntas desde a porta

de onde saíste para que a raridade

também fosse deles: avô e avó

maravilhados por tua graça.

 

(Dedicado à neta de ns)


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