quinta-feira, 10 de junho de 2021

Três poemas de José Pascoal

 



UCRATE

 

Em Ucrate,

A sombra duma oliveira

Ilumina as nossas sombras

Vindas de longe,

Da selva dos crustáceos

E dos bois de trabalho,

E um sino chama para a missa

Os mais incautos

Dos mais desesperados,

E uma alvéola brinca

Num pátio de terra batida

Pelo calor do céu,

E duas cabras dão uma corrida

A ver quem ganha a erva,

E os canitos de pedra ladram

Contra a secura que os atormenta,

E eu recordo-me de um mar

Maior do que uma ermida,

E tudo me parece vago e vivo

Como o rosto duma virgem de calcário.

 

À MARGEM DE VERBO ESCURO          

 

Desde que me conheço

Nenhuma graça me acontece:

O silêncio é o meu ruído,

O passado, futuro que anoitece.

 

 

A PAZ E O SOSSEGO

 

Não me tirem

A cafeína dos versos

Nem a alegria

Das primeiras impressões.

 

Houve um tempo

Quente e frio,

A nortada dos desejos,

Revoada de estorninhos.

 

Houve um espaço

Aberto à luz

Da cal

E da palha face à bruma.

 

Não me tirem

O sono leve

Das noites férteis

Em sonhos meridianos.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...