AUTOBIOGRAFIA
ECOLÓGICA
Há quem diga que moro no
desalento,
No desencanto permanente;
Não será bem assim,
Sinto apenas o esqueleto
dormente.
Nas ruas desastradas por
que passo,
Vejo os vestígios
violentos da discórdia,
Gente que acena para os
carros fúnebres,
Roupa estendida numa
corda.
E, se voltar a casa,
Arrumarei cadernos numa
gaveta,
Sem fundo, sem bolor e sem
caruncho:
Alguém há-de levá-los para
o ecoponto.
OS
PARENTES AFASTADOS
Somos todos parentes
afastados
E consumimos água, luz e
gás.
Temos sono pesado na
balança
Nivelada, neurótica,
noctâmbula.
Pomos todos a mão no
parapeito
Antes do salto eterno sem
retorno.
Vemos todos a cova no
cemitério
Dos prazeres fáceis
prometidos.
Ficamos com o ar triste de
bovinos
Deitados num palheiro
humedecido.
* Nota –Estes poemas que aqui deixamos,
bem como o Pórtico a abrir a postagem de hoje, são o sinal da nossa amargura pelo
infausto acontecimento ali descrito e o nosso proverbial abraço a este confrade
sempre cordial e poeta de qualidade que agora partiu.
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