quinta-feira, 6 de maio de 2021

IN MEMORIAM: Dois poemas de José Pascoal

 




AUTOBIOGRAFIA ECOLÓGICA

 

Há quem diga que moro no desalento,

No desencanto permanente;

Não será bem assim,

Sinto apenas o esqueleto dormente.

 

Nas ruas desastradas por que passo,

Vejo os vestígios violentos da discórdia,

Gente que acena para os carros fúnebres,

Roupa estendida numa corda.

 

E, se voltar a casa,

Arrumarei cadernos numa gaveta,

Sem fundo, sem bolor e sem caruncho:

Alguém há-de levá-los para o ecoponto.

 

 

 

OS PARENTES AFASTADOS

 

Somos todos parentes afastados

E consumimos água, luz e gás.

 

Temos sono pesado na balança

Nivelada, neurótica, noctâmbula.

 

Pomos todos a mão no parapeito

Antes do salto eterno sem retorno.

 

Vemos todos a cova no cemitério

Dos prazeres fáceis prometidos.

 

Ficamos com o ar triste de bovinos

Deitados num palheiro humedecido.

 

* Nota –Estes poemas que aqui deixamos, bem como o Pórtico a abrir a postagem de hoje, são o sinal da nossa amargura pelo infausto acontecimento ali descrito e o nosso proverbial abraço a este confrade sempre cordial e poeta de qualidade que agora partiu.


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